Temos saudades do paraíso perdido

A maior prova para a nossa paciência é a coexistência com o mal. O sonho de uma terra sem males é inato ao homem. Encontramo-lo em todos os povos, desde os mais primitivos até os mais avançados (Is 11,1-9). É a saudade de um paraíso perdido. Até mesmo os profetas imaginavam a chegada do Messias como alguém que extirparia por inteiro o mal da face da terra. Assim pensava também João Batista (Mt 3,10). E, quando ele percebeu que Jesus, em vez de eliminar os pecadores, comia com eles e andava com eles (Lc 7,34), ficou preocupado. João Batista começou a se perguntar se Jesus era o Messias ou se devia esperar por outro (Mt 11,3). Jesus trouxe um tempo de graça e salvação. Ele comparou esse tempo ao plantio e crescimento do trigal. O Reino de Deus, na sua realização terrena, embora sendo de graça e santidade, não nos dispensa a paciência.

Há os que se escandalizam com a existência do mal. Dizem: se Deus é o criador de tudo, como pode haver tantos males e maldades? Se Deus é bom, como pode permitir tanta desgraça? O Concílio Vaticano II viu nesse escândalo uma das razões
do ateísmo moderno (Gaudium et Spes, 19). Se há males que o próprio homem cria e pratica, há os que não dependem de sua vontade, como terremotos, tufões e mortes prematuras. O homem consegue explicar os males que nascem de seu coração, como a guerra, a corrupção e a violência. Mas não tem explicação para o mal em si. São Paulo chamou o mal de mistério (2Ts 2,7). O homem é posto diante do mal. A ele deve resistir. A ele deve superar. Com ele deve conviver, mantendo-se fiel ao bem. Deus é o exemplo de paciência, lembrado por Jesus, que faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos (Mt 5,45). É bendito todo o esforço humano para vencer o mal. Isso é paciência, uma qualidade ativa e forte. A vitória completa sobre o mal acontecerá somente na plenitude do Reino: no céu.

Frei Clarêncio Neotti

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