Reflexão do Evangelho

O Canto do Encanto

Celebramos hoje a glorificação de Maria, seu ser plenamente instalado no coração e na vida de Deus. As leituras, no entanto, não falam de como tudo se processou. Colocam em evidência uma alma extremamente grandiosa que sabe pôr-se em marcha, acolher, servir e reconhecer a imensa misericórdia de Deus. É a caminhada de Maria Santíssima perfazendo os caminhos do mundo e nele construindo o céu que já está nela e ao mesmo tempo revelando o Deus que encontrou nela graça e benevolência. Isso tudo, na verdade, revela como Maria foi mergulhando no seu Deus e nosso Deus até sua assimilação plena no Deus que a preferiu, a escolheu, a amou e elegeu como inteiramente sua.

É assim que o Evangelho desta Solenidade nos fala de Maria, apressada para servir, vencedora das dificuldades trazidas pelas montanhas e pela ausência de meios que poupassem o cansaço da estrada e as intempéries do dia a dia. Ela já não é mais possuída por outros clamores senão por aqueles que brotam da força do Espírito. Na mesma força ela saúda Isabel e estabelece com ela plena comunhão espiritual. A fé transborda de uma e outra; a misericórdia e a condescendência de Deus se tornam veículo de ação de graças e de proclamação da história nova com a qual Deus presenteia a humanidade. Protagonistas deste mundo novo e desta situação humana e divina são aí nesta narrativa lucana Isabel e Maria, construtoras de outras esperanças graças aos filhos que trazem em seus ventres: uma carrega um profeta; a outra, um filho do Altíssimo.

Inundadas pela realidade nova que as feriu e tocou, vivem o momento da graça. Maria faz de conta que o tempo já não conta, que três meses falam menos do que o serviço e a presença, que Deus é grandioso sobretudo onde as carências humanas se fazem mais gritantes. Ali seu poder se revela; ali sua fidelidade é provada; ali os valores se invertem: os do mundo já não servem para plenificar a vida: o que conta é Deus em sua infinita bondade e em seu amor que permanece vivo, eficaz e reconstrutor de geração em geração.

Frei Salésio Hillesheim

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