O tema do amor

Imagem: CNBB

A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não é vaidosa, não se ensoberbece; não faz nada de inconveniente, não é interesseira, não se encoleriza, não guarda rancor, não se alegra com a iniquidade, mas se regozija com a verdade. Suporta tudo, tudo crê, espera tudo, desculpa tudo.(1Co 13, 4-7).

♦ O tema do amor é recorrente. Precisamos bater sempre na mesma tecla. Vamos, pois, nos deter no tema da caridade, do amor fraterno, a partir do capítulo 13 de Paulo na carta aos Coríntios, leitura proposta na liturgia de hoje. Não sei quantas vezes já ouvimos esse hino do amor e quantas vezes ele nos convidou a sermos pessoas diferentes, livres, profundamente de bem com a vida e respirando amor. “Há pessoas em cujos olhos se vê que são plenas de amor, que absorvem em si o amor divino. Essas pessoas não dirigem seu amor a determinados indivíduos, elas irradiam o amor em seu ser total” (Anselm Grün).

♦ Deus é amor. A Trindade é comunhão de dom, o Pai, O Verbo e o Sopro. Os Três se amam reciprocamente e vivem na troca do dom. O amor entre Três é difusivo e, assim, criador. O mundo, o cosmo, as galáxias, o ser humano e tudo o que existe é resultado desse amor difusivo. Ele, a fornalha de amor, o Deus que é incêndio de amor nos envolve e nos leva à dinâmica do dom. Jesus, Deus feito homem, é amor. Ele mesmo conjugará o verbo amar em todos os tempos e modos da gramática. E sempre ressoa aos nosso ouvidos a palavra do Senhor ao dizer que não existe maior amor do que dar a vida pelos seus e até mesmo inimigo.

♦ O amor não é fugaz sentimento mais ou menos adocicado que eventualmente pode nos habitar. É decisão. A pessoa resolve ter como linha mestra de seu projeto de vida o amor. Insistimos: amar é tomar a decisão de sair de si e buscar o outro, os outros na linha de batalhar por seu enobrecimento, proporcionar respeito por sua dignidade e promovê-lo em todos os sentidos.

♦ Muitas vezes a Escritura, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, pede nossa atenção especial para com a fragilidade de um certo grupo de pessoas: órfãos, viúvas e estrangeiros. Essas pessoas estão a nos dizer que precisam de atenções que não podem ser adiadas. O amor mais urgente se dirige aos mais frágeis.

♦ A família é um espaço de manifestação de profundo bem querer. Há antes de tudo o amor conjugal: preventivo, atencioso, capaz de auscultar as necessidades mais profundas do cônjuge, terno, delicado até nas manifestações do encontro amoroso dos corpos, amor sempre preocupado em perdoar. Amor parental e maternal que é marcado por atenções constantes, feito de coisas pequenas, presencial e prático. Amor que leva os pais a impedirem que seus filhos sejam fantoches de uma sociedade sem alma, mercantilista e hedonista. Amor familiar é camaleão que vai mudando de cores ao longo do tempo da vida tanto no aspecto conjugal quanto parental.

♦ O amor manifesta-se através de um profundo respeito pela dignidade do semelhante. O outro é imagem de Deus. Essa postura de respeito atencioso não depende da cor da pele, do nível de instrução, das posses que alguém venha a ter. Por isso ninguém pode ser deixado de lado em sua miséria material ou moral. O outro nunca será transformado em coisa, nem pode ser usado como objeto descartável. É sinal de amor alertar a uns e outros que cuidem de não enveredar pelas sendas do indiferentismo e do descuido pela busca do rosto de Deus, sentido da vida. Tais exortações são sinais de amor.

♦ Amor fraterno tem tudo a ver com serviço carinhoso. Francisco de Assis sempre foi considerado como alguém que soube ser irmão, amar respeitosamente o irmão. Um dos termos chaves da espiritualidade de Francisco é servir. A palavra servo, com efeito, aparece mais de cinquenta vezes em seus escritos e servo mais de vinte vezes. “Nenhum dos irmãos exerça uma posição de cargo ou de mando e muito menos entre os próprios irmãos. Pois como diz o Senhor no Evangelho: Os príncipes das nações as subjugam e os grandes imperam sobre elas”, assim não deve ser entre os irmãos, mas mantes: Aquele que quiser ser o maior entre eles seja o seu ministro ( Mt 20, 26-27) e o servo deles, e quem for o maior entre eles faça-se menor (cf lc 22,26). E nenhum irmão trate mal a um outro nem fale mal dele. Antes sirvam e obedeçam de bom grado uns aos outros na caridade do Espírito” (Regra não bulada 5,12-17). E nesse gênero de vida ninguém seja chamado de prior, mas todos sejam designados indistintamente de frade menores, continua Francisco.

Texto para reflexão

O amor é benigno. Uma pessoa cheia de amor faz bem aos outros, tem uma irradiação de cura. Perto dela a gente se sente bem. Ela vê o bem nas outras pessoas e faz com que elas o manifestem. Como crê no bem das pessoas, relaciona-se benignamente com elas. O amor irradia sossego e independência. Quem sente o amor em si é livre. Não fica comparando com os outros, vive em si. Seu coração não é suscetível a atos que causam tristeza. O amor conduz o ser humano a si mesmo, a seu próprio modo de ser, manifesta seu interior.

Anselm Grün, “Pequeno tratado do verdadeiro amor”, Vozes, p. 34.

Oração

Peço-te, Senhor, pela compaixão. Não me permitas subir pelo tempo afora aparelhado de uma indiferença crescente. Não me deixes supor o mundo, com todas as suas dores, como um flagelo distante. Não consistas no meu virar de cara rotineiro; na minha surdez aos desgostos alheios; na dureza prática com que encaro as fragilidades que irrompem na vida dos outros. Ensina-me a compaixão, a misericórdia, o cuidado. Ensina-me a prece verdadeira que dos gestos do bom samaritano subia até ti.

José Tolentino Mendonça, “Um Deus que dança”, Paulinas p.94.


Frei Almir Guimarães
Fonte: site Franciscanos

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