Jesus, após receber a plenitude do Espírito Santo, que desceu sobre Ele no batismo, não começa imediatamente a sua vida pública (pregação, milagres e curas), porém vai ao deserto fazer um retiro de quarenta dias e quarenta noites. O deserto é visto na Sagrada Escritura como lugar de carestia de água e de alimentos, espaço onde vivem cobras, escorpiões e outros animais ferozes. É o lugar do confronto do ser humano consigo mesmo e com as forças da natureza. Neste contexto, Jesus é tentado três vezes pelo demônio. Na primeira resposta de Jesus, “não só de pão vive o homem”, evidenciamos o modo de vencer a tentação do ter, da prosperidade esperada do Messias, que pudesse resolver a falta de alimento da humanidade, num toque de mágica, sem confiar na força divina que capacita toda humana criatura a trabalhar para ganhar o próprio pão de cada dia. Na segunda resposta de Jesus, “adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás”, evidenciamos o modo de vencer a tentação do poder, que pudesse estar acima da capacidade de servir a humanidade. Significa que o empoderamento do Messias e dos seus seguidores seria caracterizado pela capacidade de servir a Deus e ao próximo, na experiência do lava-pés, diferente do poder daquela época e dos dias atuais. Na terceira e última resposta de Jesus, “não tentarás o Senhor teu Deus”, evidenciamos que Jesus desvia a atenção do demônio na sua tentação de querer triunfar sobre o bem.
Jesus passou pela experiência das tentações, não obstante fosse o próprio Messias esperado, para dizer que Ele, em seu livre arbítrio, foi capaz de não consentir às tentações. Nós, como cristãos, também podemos fazer uma experiência de Deus nesta Quaresma, dizendo não às forças negativas que batem à nossa porta no cotidiano de nossa existência. E se, por descuido, cairmos numa tentação, nos deixemos conduzir pela misericórdia divina, reconhecendo a nossa fragilidade e retomando a nossa caminhada, graças ao Espírito Santo que nos ilumina e nos guarda!
Frei Ivo Müller