O diferencial cristão
Estamos no coração do chamado Sermão da Montanha, do Evangelista Mateus. A nova lei, a nova forma de compreender a Deus e aos seres humanos aí se faz presente e as palavras de Jesus a tudo confirma. Na verdade, o próprio Jesus sacramenta em sua vida o que apregoa por suas palavras. O Evangelho dito é Boa-Nova assumida até as últimas consequências por ele.
O texto em questão trabalha com oposições. Delas surgem sempre propostas novas, desafiadoras, contrastantes com a compreensão tradicional das leis judaicas e religiosas. E o que parecia ser direito, justo e, até natural, torna-se, sob o olhar de Jesus, totalmente ultrapassado e inadmissível. Um modo de ser e agir quase que ingênuo, mas centrado no gratuito, no melhor, na qualidade interior, no diferencial humano e próximo está no olhar e na palavra de Jesus. Já não vale mais a lei antiga. Ela pode até ser válida, mas não é humana suficiente para gerar fraternidade, comunhão, amor e bem-querer. Ela não tem novidade. Tem lógica aparente e força de imposição, mas não de humanidade.
É neste contexto de gratuidade e de bondade, como elementos inerentes ao ser humano, que se evidencia também uma nova forma com a qual o ser humano deve se entender: ele é capaz de um adicional que não é salvaguardado pelo que é normal, conveniente ou mais fácil, mas por aquilo que ele é no mais profundo de seu ser: bom, generoso, fraterno, amigo, irmão.
Neste horizonte, os dizeres de Jesus sinalizam para uma leitura do ser humano que não se sustenta a partir de um rigor provindo de leis. A verdadeira grandeza do ser humano está em ser mais do que a lei e em superar a lei por práticas que a própria lei não entende. São geradas a partir do interior do ser humano bom, justo e generoso.
Frei Salésio Hillesheim