4º Domingo do Tempo Comum

Bem aventurados os pobres em espírito!

O Evangelho deste domingo nos apresenta, mais uma vez, o sermão da montanha (Mt 5,1-12). Sobre o modo de viver as bem-aventuranças, como um todo, já abordamos esta temática na Solenidade de todos os santos e santas, como plataforma aplicada a todos os batizados em Cristo. No dia de hoje, vamos eleger a primeira bem-aventurança (Mt 5,3) como proposta de reflexão.

A partir do momento em que Jesus inicia a sua pregação, na região da Galileia, muitos seguidores o acompanham em sua missão, buscando entender quem ele era, seus milagres, suas curas e pregações. No meio da multidão, muitas pessoas eram excluídas do sistema, pelo fato de não conseguirem a prosperidade, própria do judaísmo. Por conseguinte, muitos pobres – materiais e espirituais – eram colocados para fora do tapete. Jesus abre o leque da compreensão, envolvendo em seu discurso os pobres em espírito, como bem-aventurados. Os destinatários da pregação não estavam restritos à pobreza material, que por sinal era muito numerosa no tempo de Jesus. O Messias inclui em sua fala também este tipo de pobre, como sendo aqueles subtraídos das riquezas comuns de seu tempo, não pelo fato de viverem somente esperando os programas sociais do governo, como nos dias atuais. Os pobres do tempo de Jesus eram dependentes de outrem para sobreviver, como única alternativa. Estes destinatários, viviam na esperança de conseguir “o pão nosso de cada dia”, na expectativa de melhores dias.

Numa outra perspectiva, quando Cristo menciona “os pobres em espírito”, engloba também os outros pobres, ou seja, as pessoas que mesmo sendo muito ricas em sua prosperidade, dependiam da busca da divindade para bem pautar a sua existência. Aqui, entra em cena o esvaziamento da cobiça e avareza, na linha da humildade, na exclusão de toda e qualquer atitude egoísta, como se fosse uma pessoa isolada ou enclausurada em seus próprios interesses, em seus desejos ou objetos de busca. No meio destes destinatários, Jesus toca o coração, inclusive dos fariseus e doutores da lei, que se julgavam autossuficientes, como donos da verdade, como se fossem proprietários exclusivos da divindade.  Neste cenário, entra a partilha de bens, dons e valores, com os mais necessitados, como extensão de si mesmos.

Aplicando esta bem aventurança aos nossos dias, penso que todos nós, como cristãos, independente do estado ou condição de vida que assumimos, somos provocados a cultivar atitudes diferenciadas do comum da sociedade onde vivemos. Somos convocados a certas renúncias: ao egocentrismo racional, como se fôssemos os donos da verdade; à polarização política, em que não aceitamos os próximos, somente porque votaram no candidato diferente do meu; à intolerância religiosa, pensando que a minha religião é a única que vai salvar o mundo; ao acúmulo desnecessário de tantas coisas, que seriam subtraídas à vivência dos mais necessitados; à inteligência racional, fechada em si mesma, que tem resposta pronta para tudo e para todos, dentre outras renúncias que devemos praticar, como batizados em Cristo.

Que o Espírito do Senhor alargue nossas tendas do entendimento desta Palavra, para que possamos bem viver o espírito das bem-aventuranças!

Frei Ivo Müller

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