4º Domingo da Quaresma

CEGOS QUE JULGAM VER

Inicio a reflexão do evangelho deste 4º Domingo da Quaresma com a afirmação de Jesus: “Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem, vejam, e os que veem se tornem cegos”. Os fariseus que se tinham considerado defensores do sábado, da lei e insatisfeitos com a cura do cego, logo entenderam que Jesus estava falando também deles e perguntam: “Porventura, também nós somos cegos”? Jesus não tem dúvida em responder-lhes: “Como dizeis: ‘Nós vemos”, o vosso pecado permanece”.

O caminho de cada um de nós pode ser um caminho de iluminação, de visão, de horizonte que se abre. Pode também ser de fechamento, inclusive, a partir de argumentos e justificativas válidas e justas, como a lei, a conveniência, o gosto etc. O cego em quem Jesus passou sobre os olhos a lama, formada por sua saliva e barro, passa do ver dos olhos para o ver do espírito. Passa da cegueira física para a visão plena. Ele vê o que os homens da observância da lei, os fariseus, não veem.

O cego se surpreende pela graça que chega a ele por sua obediência simples a uma ordem: “Vai lavar-te na piscina de Siloé”! E quando todos imaginavam que o cego deveria ser eternamente cego, algo novo havia se processado nele: ele via, tinha nascido de novo, o mundo lhe era outro agora. Sua visão lhe trazia uma presença nova e impactante, esperançosa e de reintegração que lhe permitia confessar tranquila e alegremente: “Ele (quem me curou) é um profeta”.

A cena mais chocante do relato é realizada pelos mesmos fariseus que imaginam ver: expulsam o cego curado da Comunidade porque argumentam que ele tinha nascido todo em pecado e estava ensinando. Essa era realmente a questão central que tinha sido, inclusive, motivo para uma pergunta dos discípulos a Jesus: “Quem pecou para que nascesse cego: ele ou seus pais”? “Nem ele nem seus pais” foi a resposta de Jesus. As limitações físicas não são consequência punitiva por atos ou situações morais ou religiosas. O ver, porém, pode ser justo, honesto, sábio, transformador, identificador e restaurador; como pode ser excludente, condenatório, irascível, legalista, implacável, cobrador.

A nós fica também a pergunta: Vemos ou somos cegos que imaginam ver?

Frei Salésio Hillesheim

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