O evangelista Lucas nos diz, no trecho do Evangelho deste domingo que, assustados e cheios de medo, os discípulos pensaram estar vendo um fantasma quando Jesus lhes apareceu.
Não lhes fora suficiente a partilha dos dois discípulos de Emaús que diziam ter reconhecido Jesus ao partir o pão. Nem suficientes pareciam ser os sinais físicos: mãos, pés, carne, ossos. É o próprio Jesus quem lhes dirá: “Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. Ainda não acreditaram, mesmo quando se sentou com eles e comeu para provar-lhes que não era um fantasma. Por fim, precisou abrir-lhes a inteligência para entenderem as Escrituras. Tiveram que alargar seu horizonte e olhar para a história.
Na verdade, os discípulos estão diante de um fato novo, inesperado, imprevisível e totalmente distante de tudo que imaginavam. Ao que tudo indica, a ideia mais real que tinham era a de que tudo havia se acabado. Pensar Jesus como um ser novamente presente, era impossível. A figura do fantasma parecia a mais cabível e justa para tudo que havia acontecido.
É aqui que nos colocamos todos nós. O Ressuscitado está aí. Vive entre nós. O risco que corremos é o de fazermos dele um fantasma permanente. Fantasma é alguém que não faz parte de nós mesmos, que nos assusta, que tem aparência, mas não é real, aparece e some. O fantasma não tem identidade nem identificação. O Jesus fantasma pode estar muito próximo de nós: ele é agradável, tem as feições que lhe damos, oferece as exigências que lhe conferimos, está cheio dos poderes que nos defendem, mas pode ser um Jesus de quem não somos testemunhas, com quem não partilhamos nossa vida, com quem não construímos um mundo desejado por ele, em torno de quem não formamos família e comunidade, e por quem não entregamos nossa própria vida. Será que não estamos hoje vivendo mais de um Jesus-fantasma do que de um Jesus-Ressuscitado?
Frei Salésio Hillesheim
