SERES HUMANOS OU ANIMAIS?

            O evangelho deste 7º Domingo do Tempo Comum é um desafio à nossa essência humana, não dada à satisfação de apetites e razões físicos ou irracionais em cada um de nós. Ele nos faz ver que não somos meramente respostas a estímulos ou reações instantâneas e imediatas a provocações ou ações feitas por outros ou por situações.

            Aparentemente, poderíamos até pensar que Jesus está estabelecendo normas de conduta, de um bom comportamento cristão, distinto de outros tantos comportamentos que poderiam não parecer muito apreciáveis socialmente. Jesus não nos quer socialmente corretos nem socialmente gentis ou bondosos. Ele nos quer novos no ser e novos no agir. Ele quer de nós aquilo que São Paulo dirá também, não homens carnais, mas seres dotados de espírito, de senso que ultrapasse todos os estímulos e todos os sentimentos de defesa ou de resposta possíveis em nós.

            Na verdade, Jesus nos coloca diante de outra inspiração, de outro modo de viver a vida com os outros. Ele nos faz perceber que nossa identidade humana é a de estar com os outros não como animais ou seres irracionais, mas como superadores das circunstâncias e das ações que nos são adversas ou que provocam nossa resposta defensiva e instintiva imediata.

            Desta maneira, ele nos leva a quebrar qualquer processo de proliferação da vingança, do ódio, do mal, da soberba, da grandeza e da irracionalidade humana. Estas ações são formas superficiais e contraditórias dentro de um ser que é mais que sentimentos, reações e respostas. Interromper a lógica humana defensiva e egoística, utilitarista e endereçada a si mesmo é o caminho que Jesus nos provoca a percorrer com cuidado e com esperteza. Amar não é fazer ou deixar de fazer. Amar e ser misericordioso é encetar um modo de viver que rompe com as forças que dividem, que destroem a grandeza de cada um de nós e que estabelecem relações de sintonia, de perdão, de reconhecimento e gratuidade diante de si e dos outros.

            O caminho que o Senhor nos indica, pois, é o de sermos homens e mulheres que sejam plenos, novos no ver, ser e agir, íntegros em sua identidade humana e espiritual, reflexos vivos do que Deus é: misericórdia e bondade infinitas.

Frei Salésio Hillesheim

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