No meio do caminho tinha uma pedra

 


 

 

 

 

No meio do caminho tinha uma pedra. Para os fariseus, doutores da lei e poderosos de seu tempo, Jesus se tornaria pedra de tropeço. Muita coisa do que Ele ensinava agredia os corações petrificados daqueles que se acostumaram com a ordem vigente das coisas que “sempre foram assim”. O modo de Jesus ser e agir fazia desmoronar o edifício dos privilégios de poucos dominando sobre a grande maioria, tudo habilmente justificado pela lei e pela religião. O olhar atento para os pobres e desprezados, o primado da misericórdia sobre as normas, o interesse primeiro no ser humano e na sua dignidade, o testemunho de um Deus que era Pai amoroso eram posturas que provocavam para a instauração de uma nova ordem ética e social que colocaria em risco uma estrutura pautada na desigualdade. Astutos e petrificados no status quo vigente, os poderosos logo perceberam que a mesquinhez injusta de seu poderio não poderia resistir à verdade libertadora do Reino de Deus.

No meio do caminho tinha uma pedra. Para Pedro e os Apóstolos, encontrar Jesus emseu percurso existencial significou uma verdadeira revolução de vida. Compreendendo a mensagem do Mestre, perceberam que aquela pedra que haviam encontrado no caminho não era um obstáculo, mas o sustentáculo de todas as suas escolhas dali para frente. Não sem dor, sofrimento e contradição, Pedro e os Apóstolos buscaram construir o edifício de suas vidas sobre a pedra por muitos rejeitada mas que, para eles, tornou-se a “pedra angular” (Cf. Sl 117).

De longe, aos caminhantes, parecia ser uma pedra, sem vida e imóvel. Quando se aproximam, percebem ser uma ovelha, ferida e fraca, necessitada dos cuidados do Bom Pastor. O olhar atento e próximo é que permite a eles vencerem a primeira impressão e conhecer mais de perto as necessidades daquele ser vivo. É este olhar que Jesus também deseja ensinar àqueles que desejam ser seus discípulos.

Vencer o olhar da superficialidade que pode levar à indiferença e à discriminação. Onde muitos passantes desatentos poderiam ver apenas uma pedra, o discípulo deve treinar-se para ver uma vida. Onde o olhar da hipocrisia identifica “um bêbado, um ‘noia’, um bandido, um vagabundo, um ‘traveco’, um largado, um ‘zé ninguém’, um ‘herege’”, os olhos do discípulo, treinados nas habilidades do Bom Pastor, precisam necessariamente enxergar um ser humano, um irmão, um Filho de Deus, digno de respeito, cuidado e atenção. Só assim o Reino acontece!

Frei Gustavo Medella

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