Do “confiar” ao “confiar-se”: caminho de uma vida toda

 

“É feliz quem a Deus se confia”, reza o estribilho do Salmo 1 na Liturgia deste 6º Domingo do Tempo Comum. O caminho da fé é marcado por um percurso gradativo que o ser humano faz e, à medida que amadurece, adquire estágios que vão se robustecendo em qualidade e intensidade. Na sua relação com Deus, a pessoa é chamada a dar passos, muitos deles marcados pela ousadia. O convite é que, a partir do “reconhecer” a existência de Deus, o ser humano passe a “confiar em Deus” para, finalmente, “confiar-se” a Deus.

Reconhecer a existência

É um exercício muito mais do intelecto do que do coração. Pertence ao âmbito informacional de quem “já ouviu falar” ou “sabe quem é”. Pode ou não tender ao cultivo de uma proximidade maior. Apesar de externar um vínculo frágil, mais ou menos distante, é um primeiro passo fundamental para que haja um amadurecimento no processo da fé. Mais do que “provar” a existência de Deus, o exercício próprio para atrair as pessoas nesta etapa do caminho é o de apresentá-Lo através de Jesus Cristo, com a Palavra e, principalmente, com o testemunho que se espera quem se diz discípulo do Senhor.

Confiar

É um passo a mais no caminho. Trata-se de um aprofundamento na vida de fé onde, para além de reconhecer a existência, aquele que crê percebe em Deus uma presença efetiva em sua vida. No entanto, neste estágio, a pessoa ainda se coloca como centro do processo e da caminhada e passa a enxergar em Deus alguém que pode realizar seus planos pessoais, ajudá-la a vencer os obstáculos, proporcionar a satisfação de seus desejos.

Confiar-se

Aí está o grande salto do caminho. O crente, nesta fase, percebe que Deus é o verdadeiro centro de sua vida e existência e que o sentido da verdadeira felicidade está em colocar-se no caminho das Bem-Aventuranças, sem tanta preocupação do que pode ou não acontecer à sua vida. Ainda que seja injustiçado, que sofra violências e privações, o mais importante é saber que no centro deste projeto está o Reino de Deus instaurado por Jesus, onde a paz, a justiça, o equilíbrio e o respeito se fazem regra geral. É um passo de muita ousadia, uma meta que, com frequência, leva uma vida toda para se tentar alcançar. No entanto, é nesta direção que a comunidade cristã deve caminhar, no desejo de que, junto ao Ressuscitado, todos façam parte do número daqueles que “foram felizes por que a Deus se confiaram”.


Frei Gustavo Medella

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