Descansar no amor


Frase para refletir:

“Quando descanso? Descanso no amor” (Anjezë Gonxhe Bojaxhiu ou “Madre Teresa de Calcutá”, religiosa católica de origem albanesa, 1910-1997).

O amor que vem de Deus e nos toma por inteiro quando nos deixamos tocar, dá sentido a nossa existência. Cansar e descansar são dois ritmos que a vida nos oferece em meio a tantas fadigas que nos tocam diariamente. Cansamos quando sentimos o esvaziamento das energias que nos mantinham no pique dos afazeres. Porém, nem sempre nosso cansaço se liga ao que fazemos, como, por exemplo, o cansaço de uma lida diária de um trabalho braçal e intelectual. Esse tipo de cansaço nos tira as energias, mas as recuperamos de imediato numa noite tranquila de sono, num passeio, numa atividade esportiva, e até mesmo num pequeno cochilo de poucos minutos. Pois, tal cansaço não nos tira as verdadeiras forças, nem as disposições mais profundas da alma.

O cansaço que nos cansa e não descansa é o das obras feitas sem amor. Tudo o que fazemos sem gosto, sem querer, sem vontade livre, enfim, sem amor, isso, sim, nos provoca um cansaço sem descanso. Trata-se daquele cansaço existencial que nos acompanha dia após dia sem data de término. Nele sentimos como se estivéssemos empurrando enormes blocos de pedras morro acima sem jamais alcançar o topo. Sentimos uma espécie de peso insuportável não apenas sobre os ombros, mas sobre a totalidade de nosso ser, aumentando em doses lentas, mas de forma indefinida. Se aquilo que faço produz tal cansaço e fadiga que me arranca as energias sem nenhum retorno de vitalidade no dia seguinte, é um bom indicador de que aquilo que estou fazendo é sem amor.

Ao mesmo tempo, é bem verdade que toda obra feita com amor cansa, mas o amor descansa aquele que trabalha com amor e, nessa medida, até o mais pesado fardo se torna leve. Torna-se leve não porque perde o peso ou a força de sua realidade crua e nua ali a nos pesar na existência, mas, porque o amor o suporta e o carrega até nos seus limites mais extremos. Há pessoas que nunca se cansam, porque estão continuamente sustentadas pelo amor com que fazem qualquer coisa. Até mesmo numa enfermidade são fortes e invencíveis, pois não são elas a carregarem o peso da enfermidade, mas o amor que carregam em seu íntimo. E, embora lutem, sofram e sintam o peso da dor, descansam e se refazem no amor. Ou melhor, o amor as descansa. O amor aqui não é um sentimento que criamos para nos ajudar a suportar o sofrimento. Refere-se a um modo de ser que nos toma por completo, e que nos move em tudo o que somos e fazemos. Desta forma, descansar nesse amor nada mais é do que trabalhar incansavelmente para viver e se abastecer incessantemente de sua força, de sua energia e de sua vitalidade sem fim.

José Irineu Nenevê 

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