Ano Litúrgico (Fim de Ano)

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No calendário da Igreja, encerra-se o ano de 2016 com a celebração litúrgica solene de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. No próximo domingo começa o ano de 2017, com o tempo do Advento que nos encaminha mais uma vez rumo ao Natal do Senhor.

Fui buscar lá nos ensinamentos do meu estimado confrade e professor de Teologia Litúrgica, Frei Alberto Beckhäuser, OFM, doutor em Liturgia pelo Instituto Litúrgico de Santo Anselmo, em Roma, e conhecidíssimo em todo o Brasil por seus livros, artigos e palestras, especialmente sobre a Liturgia renovada pós Concílio Vaticano II, para recordar aqui o que ele fala a respeito do Ano Litúrgico. O ponto de partida do Ano Litúrgico é o Advento que prepara para o Natal e o ponto de chegada é a festa de Cristo Rei, como a de hoje. Durante o Ano a Liturgia ajuda a Igreja a “Viver em Cristo Jesus” celebrando os mistérios de sua encarnação, vida e missão, paixão, ressurreição e ascensão. Através desses mistérios de Jesus Cristo celebrados pela Igreja, Jesus, o Filho de Deus, continua a salvar e a santificar a humanidade. No ritmo do ano, os mistérios do Senhor e as solenidades de Maria e dos Santos são celebrados cultualmente na Liturgia para serem vividos por todos nós no nosso dia a dia. Deste modo, esforçando-nos para viver em Cristo, lembra-nos Frei Alberto, é que nós nos submetemos ao que exortava Paulo Apóstolo quando escreveu aos Colossenses: “Vivei em Cristo Jesus, o Senhor, assim como O recebestes, arraigados e fundados nele, apoiados na fé segundo a doutrina que aprendestes, transbordando em ação de graças” (Cl 2, 6-7). Resumindo o pensamento de Frei Alberto, cito essas suas palavras: “Jesus Cristo, o Filho de Deus, continua a entregar-se pela humanidade, sobretudo através dos seus mistérios celebrados pela Igreja, seja nos sacramentos, seja através do ano que, por isso mesmo, se chama Ano Litúrgico”. “O Ano Litúrgico deseja ajudar a Igreja a ‘Viver em Cristo’ no ritmo do tempo do ano”.

São Lucas nos relata, no trecho evangélico da Missa de hoje, a cena do Calvário – Lc 23, 35-43. Nesse cenário da cruz, a Igreja proclama a realeza de Cristo, pois Jesus, fazendo-se obediente à vontade do Pai até à morte na cruz, foi desse modo elevado à condição de Senhor, nosso Salvador, Rei do Universo, vencedor do pecado e da morte. Eis aqui o paradoxo da cruz; da cruz veio para nós a salvação operada por nosso Deus e com a cruz se inicia o Reino de Cristo no mundo. São Paulo, entendendo esse mistério de Cristo, expressa o paradoxo assim: “O Crucificado que se tornara escândalo para uns e loucura para outros, transformou-se para os que nele creem em graça de salvação”. “Fora necessário que Cristo sofresse para entrar na sua glória” e “fora necessário para a redenção da humanidade”. Segundo ele, a morte de Cristo na cruz restaura a inocência original perdida pelo pecado dos nossos pais no paraíso.

Por sua vez, os dois condenados e crucificados com Cristo no Calvário atestam, embora contrariando a lógica, o mistério redentor de Cristo. O mau ladrão e os soldados não insultam a Jesus porque ele é rei, ao contrário as ofensas até que comprovam a sua realeza, mas o ofendem para atingi-Lo na sua divindade e negar que Ele seja Deus. O bom ladrão, ao contrário, com a sua fé na divindade do Senhor, ganha de imediato de Jesus a reconciliação com Deus e a promessa de logo mais entrar com Ele no paraíso. No alto da cruz do Senhor permaneceu estampada a inscrição do “INRI”, Jesus Nazareno Rei dos Judeus, em hebraico, latim e grego.

A Igreja nos ensina que Jesus, Rei do Universo, não deve ser visto como um rei humano que governa um pedaço geográfico e político da terra, mas como um rei divino, que Ele é de fato, conforme demonstrou pelo modo como venceu a morte e o pecado, portanto, rei de outro reino. Jesus mesmo já disse que o seu reino não é deste mundo, mas é o Reino de Deus, do amor, justiça e paz.

No último domingo terminou o Ano Santo do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, instituído pelo Santo Padre o Papa Francisco. As portas santas da misericórdia foram abertas nas Dioceses, por elas passaram multidões de pessoas que se achegaram às nossas Igrejas para contemplar o rosto misericordioso de Deus e buscar da fonte de seu coração as graças do perdão, da conversão, da renovação espiritual de vida, através de muita oração, da participação nos Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia. Em espírito de fé, esperança e caridade, quantas obras de misericórdia foram realizadas ao longo deste ano. Deus seja louvado pelas maravilhas que Ele realizou em nós. Santo é o seu nome.

Que o Senhor nos dê a graça de perseverarmos na prática continua das boas obras de misericórdia.

 

Dom Caetano Ferrari

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