Uma menina, uma mulher e Jesus

Uma menina e uma mulher. A primeira, dada como morta; a segunda, padecendo solitariamente de uma grave hemorragia. A primeira, cuidada pelos seus, teve o pai a interceder por ela; a segunda, sem ninguém a quem recorrer, desvia-se da multidão em busca de tocar no Mestre. São duas histórias cujo o ponto de convergência é Jesus, que cura e atende as duas. O Filho de Deus, que passa fazendo o bem, coloca-se a serviço da humanidade sofredora ao se tornar solidário com aqueles e aquelas que sofrem. Não importa como se chegue ele, por indicação e pedido de alguém ou por conta própria, o Senhor não faz acepção de pessoas e se dispõe a ajudar quem quer que seja.

Uma menina e uma mulher que podem simbolizar milhares de mulheres subjugadas em relacionamentos abusivos, vítimas de maus tratos, humilhações e do feminicídio. Mulheres que ilustram a dor de inúmeros grupos e comunidades que padecem do desprezo e sofrem na pele os efeitos da “globalização da indiferença”. São vítimas da ganância, do preconceito, do egoísmo e outras atitudes que matam, desagregam e destroem, que desfiguram o mundo e o tornam muito distante daquele que Deus propõe para seus filhos e filhas, conforme descreve a leitura do Livro da Sabedoria (Sb 1,13-15;2,23-24).

Uma menina e uma mulher que nos ensinam a trilhar o caminho da esperança, que nos animam a fazer coro com o salmista: “Eu vos exalto, ó Senhor,/ pois me livrastes/ e preservastes minha vida da morte!” (Sl 29). Num contexto de tanta covardia e maldade, motivo não nos faltariam para desanimar. No entanto, graças a figuras como a destas duas mulheres, não temos este direito. No exemplo delas, Deus nos convida à teimosia da esperança e a fazermos nossa parte na construção de um mundo diferente, onde a profecia que São Paulo apresenta aos Coríntios se faça realidade: “Nas atuais circunstâncias, a vossa fartura supra a penúria deles e, por outro lado, o que eles têm em abundância venha suprir a vossa carência. Assim haverá igualdade, como está escrito: ‘Quem recolheu muito não teve de sobra e quem recolheu pouco não teve falta’” (2Cor 8,14-15). Nós cremos!

Frei Gustavo Medella

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