Um coração que vê

Os evangelhos vão relatando detalhadamente episódios e atuações concretas de Jesus. Mas também oferecem “resumos” ou “sumários” onde se descreve seu estilo de viver: o que ficou mais gravado na lembrança de seus seguidores.

O evangelho de Marcos lembra estes traços: Jesus vive muito atento à dor das pessoas. É incapaz de passar ao largo se vê alguém sofrendo. Seu interesse não é só pregar. Ele deixa tudo, inclusive a oração, para atender às necessidades e sofrimentos das pessoas. Por isso o procuram tanto os enfermos e desvalidos.

Li com alegria o terceiro escrito do papa a toda a Igreja – a encíclica Caritas in veritate – porque, junto com outros acertos, ele soube expor de maneira exata o que ele chama de “programa do cristão”, que deriva do “programa de Jesus”. De acordo com a esplêndida expressão do papa, o cristão deve ser, como Jesus, “um coração que vê onde se precisa de amor e age de acordo”.

O papa olha o mundo com realismo. Reconhece que são muito grandes os progressos no campo da ciência e da técnica. Mas, apesar de tudo, “vemos cada dia o muito que se sofre no mundo por causa de tantas formas de miséria material e espiritual”.

Quem vive com um coração que vê, sabe “captar as necessidades dos outros no mais profundo de seu ser, para fazê-las suas”. Não basta que haja “organizações encarregadas” de prestar ajuda. Se eu aprendo a olhar o outro como Jesus o olhava, descobrirei que “posso oferecer-lhe o olhar de mor de que ele necessita”.

O papa não está pensando em “sentimentos piedosos”. O importante é “não desinteressar-se” daquele que sofre. A caridade cristã “é, antes de tudo, a resposta a uma necessidade imediata numa determinada situação: os famintos precisam ser saciados, os nus vestidos, os doentes atendidos, os prisioneiros visitados”.

É necessária urna atenção profissional bem-organizada. O papa a considera um requisito fundamental, mas “os seres humanos precisam sempre de algo mais que uma atenção tecnicamente correta. Precisam de humanidade. Precisam de atenção cordial”.

José Antonio Pagola
Fonte: site franciscanos

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