Que o teu silêncio me fale ao coração

Estimados irmãos e irmãs, este tempo da Quaresma nos é oferecido pela mãe Igreja como oportunidade para percorrermos um caminho de purificação em preparação à celebração da Páscoa do Senhor Jesus. À luz da Palavra de Deus, podemos e devemos nos interrogar: Como está a nossa confiança no agir gratuito de Deus e na sua presença na nossa vida? Ou somos dominados pelo vício que teima continuamente em pedir ao Senhor Jesus: “Que sinal nos mostra para agir assim?”(Jo 2,18).

Cada vez que cedemos, também nós a esta tentação de pedir um sinal posterior, estamos manifestando a nossa dificuldade em acolher o sinal da presença do Senhor que está diante dos nossos olhos, em tantos pequenos gestos de amor de quem está ao nosso lado e partilha a vida conosco, na família, na comunidade de fé e em tantas realidades do mundo. Talvez porque não nos agrada o “sinal” que nos é dado, porque exige de nós conversão e renovação, a partir do coração e das atitudes no nosso modo de ser cristão, preferimos viver a fé de forma superficial, pouco comprometida com o projeto de vida nova em Cristo Jesus, pela graça do batismo.

As Palavras que o Senhor nos oferece para orientar e guiar a nossa vida criam raízes na oferta de uma relação possível e desejada: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão”(Ex 20,2). A memória do dom de uma liberdade, que não podemos tê-la sozinhos, mas que podemos recebê-la numa relação filial e amorosa com Deus, que aceita comprometer-se com a nossa história, nos impede radicalmente de transformar a nossa vida de fé em um “mercado” (Jo 2,16).

O Senhor Jesus, lança um desafio a quantos lhe pedem um sinal. “Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus”, que se revela, porém, não na força da evidência ou na férrea e precisa lógica do mercado, mas na fragilidade, do dom de si.  A diferença está no saber oferecer-se a si mesmo e não sacrificar a vida do outro.

Creio que em todas as realidades, o tempo da quaresma é sempre um convite para aprendermos a escutar através do silêncio a voz do Senhor, que se manifesta também no clamor dos fragilizados, e nos motiva a darmos vida à sua Palavra, através do nosso agir em prol da vida, construindo juntos uma fraternidade aberta ao diálogo, e comprometida com a paz.

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Fonte: site CNBB

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