Quando os bens se tornam maus

Algumas semanas atrás causou escândalo a gravação de um áudio de um procurador do Ministério Público de Minas Gerais no qual ele se queixa de “quase estar virando um pedinte”, por conta do “miserê” que recebe mensalmente, um salário de R$ 24 mil. Não duvido da sinceridade dele. O coração humano, de fato, quando se apega ao dinheiro e às facilidades que ele oferece, dificilmente consegue enxergar outras possibilidades de caminho. Ter menos ou não tê-lo passa a ser a maior desgraça a que alguém poderia estar submetido. Torna-se um coração triste, vazio, angustiado, incapaz de perceber outras riquezas que vão além do acúmulo, do prazer, do bem-estar e do consumo. O coração ávido por riqueza sangra e dói muito, buscando anestesiar-se na falsa segurança de quem julga estar garantido por ter demais. No entanto, ao modo de uma droga anestésica, o efeito da riqueza passa rápido e, para mascarar a dor de uma alma ferida, precisa-se de cada vez mais desta substância entorpecente até o dia em que seu efeito se esgota definitivamente.

A sabedoria de Jesus, no Evangelho deste 25º Domingo do Tempo Comum (Lc 16,1-13), convida a humanidade a olhar além e perceber que, quando os bens não estão a serviço do atendimento das necessidades de todos, eles se tornam maus. Deus não chama seus filhos e filhas à vida para serem acumuladores, muito menos para viverem na carência, na indigência e na indignidade. Chama a todos para serem irmãos e irmãs, vivendo e convivendo com harmonia, sem desrespeito e desumanidade. Perceber esta verdade poupa a pessoa de muito sofrimento e frustração e também a previne de provocar, com sua ganância desenfreada, a dor, a frustração e a injustiça que decorrem de uma acumulação exagerada de bens. Buscar o equilíbrio e a harmonia neste quesito talvez seja o maior desafio à humanidade desde sempre.

Frei Gustavo Medella

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