“Parem de nos matar!”, pedem os jovens franciscanos

 

Rio de Janeiro (RJ) – O primeiro dia das Missões Franciscanas da Juventude no Rio de Janeiro não será esquecido tão cedo pelos 600 jovens que se encontraram na Catedral São Sebastião nesta quarta-feira, 17 de julho. O grupo de jovens das Paróquias Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora da Conceição de Nilópolis conduziu a mística do dia, denunciando a violência que hoje ceifa vidas no país e, principalmente, no Rio de Janeiro. “Parem de nos matar!”, pediram os jovens durante a dinâmica da tarde. Esse pedido ganhou força e, mais à noite, levou os jovens à comoção com a representação teatral das mortes de jovens nos últimos anos, especialmente a de Marcus Vinícius, de apenas 14 anos, que foi assassinado a caminho da escola, no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro. Sua mãe, a empregada doméstica Bruna Silva, de 36 anos, emocionou os 600 jovens ao mostrar a camisa ainda ensanguentada do seu filho.

Depois de ouvirem o depoimento da mãe de Vinicius, os jovens acenderam velas e deixaram o salão de Eventos para continuarem a mística no altar da Catedral. Um quadro de dois metros trouxe um Cristo negro crucificado, representando todos os tipos de preconceito e violência que são cometidos. Essa cruz foi carregada em procissão da Catedral até o Convento Santo Antônio.


Durante todo o trajeto, os jovens continuaram denunciando todas as formas de exclusão, desigualdades e as causas profundas que levam o povo a viver em condições de vida precárias. Antes de entrarem na capela do Convento, os jovens pintaram as mãos com uma tinta vermelha para imprimiram a marca na cruz. Na frente do Convento, os frades esperaram os jovens com bacias de água para lavarem as mãos. Já era mais de 22 horas quando teve início a Adoração do Santíssimo.

Segundo Frei Diego Melo, animador vocacional da Província Franciscana da Imaculada Conceição e coordenador das Missões, foi um dia intenso, marcado pelo reencontro e pela saudação de Paz e Bem. “Um dia marcado pela oração inicial, que já nos colocou dentro da dinâmica e no tom do lema dessas Missões: ‘Profetas do diálogo e do respeito: ternura que acolhe a paz, com o vigor que supera a violência’. Frei Diego se referia à oração inicial das 15 horas, que começou no interior do Catedral e terminou no Salão de Eventos. O grupo de jovens de Nilópolis acolheu os participantes destas Missões com um abraço. Eles, contudo, estavam caracterizados de migrantes, LGBTs, índios, negros, mulheres, favelados. Cada jovem explicou a sua representação, terminando com o grito de todos: “Parem de nos matar”.

Na entrada do salão, os jovens franciscanos receberam uma frase escrita para meditar e um grãozinho de incenso para queimar diante do Crucifixo de São Damião.

COMOÇÃO

A encenação da morte de Marcus Vinicius foi feita pelo jovem Vítor Hugo, que se emocionou muito e levou os jovens às lágrimas. “Eu achei que seria só um evento aqui. Não. É um evento que a gente fala de Jesus, de Deus, de amor”, disse Bruna. “Gente, está difícil para criar um filho no mundo de hoje, onde o ódio prevalece. Eu acredito que o meu filho, quando ele foi tombado, levantou muitos outros filhos. Hoje, a minha luta é pelo meu filho, é pela minha filha, pelas filhas de todo mundo, é por vocês que estão aqui. A gente tem que se unir”, disse Bruna, que cria uma filha de 13 anos.

“Sempre falava para o Marcus se esconder quando visse uma operação policial. Ele me dizia: ‘Não mãe, eles não atiram em estudante, não!’ Meu filho foi morto com a roupa e o material de escola. Não dá para a gente cruzar os braços. Não dá para deixar que morram mais Marcus Vinicius a caminho da escola. Não podemos aceitar mais Marias Eduardas mortas dentro da escola. A gente não pode aceitar o genocídio de nossos filhos. A gente cria os nossos filhos com toda a dificuldade, aí eles denigrem a nossa imagem para justificar o injustificável”, criticou.

“A gente sabe que o Estado entra lá na favela para trabalhar. Mas a gente quer que o Estado trabalhe a favor da gente. Eles estão ali para nos proteger, para guardar a nossa vida, mas são eles que estão nos matando”, lamentou, mostrando a camisa de Marcus Vinicius quando foi assassinado.  “Essa é a blusa verdadeira dele. Não é de uma peça de teatro. É original. Essa blusa me dá força. A gente não pode aceitar blusas como essas. Ela é uma vergonha para o Estado e para o Brasil. A gente quer nossos filhos vivos para o bem desse país, para o bem nosso. Se não for eles, vamos ser somente idosos”, disse.

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