O “porquê” que torna leve o fardo

evang_mt_11,25-30“Não é que seja pesado, é sem jeito para carregar”. Esta constatação se faz sobre todo e qualquer objeto que exija força e destreza para ser carregado. A geladeira duplex que precisa ser subida pela escada porque não cabe no elevador, o armário de seis portas que deve ser transportado sem desmontar porque seria impossível uma remontagem, o piano de cauda que só pode ser levado numa posição para não desafinar e que aquela senhora idosa doou para o conservatório porque em sua casa ninguém mais faz soar aquelas teclas. Percebe-se, assim, que são pesados de fato e difíceis de carregar estes fardos.

No entanto, a dificuldade se torna contornável quando há um sentido em carregá-los. Existe um “porquê”. A geladeira duplex vai facilitar a vida na cozinha, diminuir a necessidade das frequentes idas ao mercado e proporcionar à família mais tempo para ficarem juntos pela facilitação do trabalho doméstico. O armário de seis portas vai ajudar o casal de filhos, pelo menos em tese, a manter o quarto mais organizado, sem tantos calçados, meias, livros, material escolar, roupas – sujas e limpas – espalhadas por todo canto da casa. E o piano de cauda? Naquele conservatório proporcionará a iniciação musical de muitas crianças de uma comunidade carente que se inscreveram nas aulas gratuitas de piano. Pesados fardos que se tornam leves não porque deixaram de pesar, mas porque carregá-los adquire um sentido especial de aproximação, de facilidade, de esperança e de abertura de novos horizontes.

No Evangelho deste 14º Domingo do Tempo Comum (Mt 11,25-30), Jesus afirma: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (29-30). Muito semelhante às situações práticas exemplificadas no início, o seguimento de Jesus se torna suave e leve não porque seja fácil. Basta que se olhe para a própria trajetória terrena do Senhor, repleta de contrariedades, carências, injustiças e perseguições. No entanto, torna-se uma caminhada realizadora porque repleta de um sentido capaz de transcender todas as dificuldades. Aqui também existe um “porquê” capaz de sustentar o discipulado.

Tal sentido profundo e consistente só de poder ser compreendido a partir da ótica da humildade de quem consegue despir-se de grandes pretensões em torno de si mesmo, deixar de lado sonhos de grandeza e prestígio, esvaziar-se do orgulho e da ganância para se lançar na construção do Reino de Deus. Em oração, peçamos ao Senhor a força e o sentido necessários para continuarmos a carregar com alegria e gratidão os fardos que a fidelidade ao Evangelho nos possa impor.

Frei Gustavo Medella

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