O Cordeiro de Deus

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Terminado o tempo natalino, a liturgia dominical inicia uma primeira série de “domingos comuns”nos quais os evangelhos descrevem a vida pública de Jesus, depois de seu batismo por João. No Brasil, o 1º domingo comum é substituído pela festa do Batismo do Senhor. No 2º domingo, o evangelho conta como João Batista apresenta Jesus a seus discípulos chamando-o de “cordeiro de Deus”. Este título é estranho para nós e certamente não suscita muita simpatia entre os jovens. Nesta época de super-homens, nenhum jovem gostaria de ser chamado de “cordeiro”.

O pano de fundo deste título é a imagem do Servo do Senhor, que se encontra nos “Cânticos do Servo”da profecia de Isaías. Domingo passado (Batismo do Senhor) foi-nos lido o 1º Cântico do Servo (Is 42 1-4): Deus coloca no Servo o seu Espírito. Hoje, a 1ª leitura nos faz ouvir o 2º Cântico: o Servo (Israel) deve reunir o povo de Deus e ser a luz das nações (Is 49, 3.5-6). O 3º e 4º Cântico (Is 50 e 53) serão lidos na Semana Santa, e é precisamente no 4º Cântico que o Servo Sofredor é comparado com o cordeiro levado ao matadouro, imagem que estende sua força também sobre os três primeiros cânticos.

Se Jesus, ao ser batizado por João, aparece como o Servo do Senhor (cf. dom passado), João o chama, mais explicitamente, “o cordeiro que tira o pecado do mundo”, “aquele sobre quem o Espírito permanece” e que “batiza com o Espírito”. Tudo isso para dizer que Jesus é enviado por Deus para libertar o mundo do pecado e comunicar o Espírito de Deus aos fiéis. Ambas as coisas, ele as realiza por sua morte por amor a nós. Ele morre como o cordeiro redentor e, quando de sua “exaltação” (na cruz e na glória), confere-nos o Espírito (Jô 7,39), para libertar o mundo do pecado (cf. ev. De Pentecostes).

Se combinarmos essas idéias, parece que este “cordeiro”não é tão passivo assim. Somos batizados no Espírito conferido pelo cordeiro libertador, para libertar o mundo do mal. Somos chamados a realizar a mesma missão do Servo e Cordeiro: dar a nossa vida, para que o pecado seja derrotado. É o sentido profundo do martírio cristão, que sempre acompanha a caminhada da comunidade de Jesus, até hoje. Martírio significa testemunho. Sempre haverá cristãos que representando o povo de Deus inteiro, darão sua vida para desfazer a força do pecado, para desarmar o mal do mundo (não apenas os atos maldosos de cada um, mas também as estruturas do mal, que devem ser combatidas com o empenho radical de nossa própria postura social). Tudo isso faz parte de nossa “vocação a sermos santos”, ou seja, a pertencermos a Deus (cf. 2ª leitura).

 

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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