Há 50 anos surgia uma nova Paróquia: a Porciúncula de Sant’Ana

Campo de São Bento
Campo de São Bento

50 Anos – Festa de Santo Antônio

Numa época de fé e de incredulidade, de luz e de trevas, lá pelos idos 1960, num momento de revoluções diversas, surgia uma nova paróquia franciscana dentro de um ambiente quase beneditino, cujo centro era o Campo de São Bento.

A Porciúncula era uma Capela Conventual pertencente à Paróquia de São Judas Tadeu e, face aos entendimentos entre o Governo Provincial dos Frades e a Cúria Arquidiocesana de Niterói, no dia 09 de abril de 1965, o então arcebispo dom Antônio de Almeida Morais Júnior emitiu o decreto Arquidiocesano criando a Paróquia da Porciúncula de Sant’Ana, desmembrando-a da Paróquia de São Judas Tadeu, sendo seu primeiro pároco, Frei Crescêncio Gilbert, então Guardião do Convento.

Firma-se, então, a tradição dos festejos de Santo Antônio. Sua realização ocorria desde 1958, sob o comando da Pia União de Santo Antônio, quando ocorriam a distribuição de pães bentos, a procissão e os festejos na área interna, com apresentação de quadrilhas e danças a cargo do grupo jovem e das crianças da catequese e dos colégios do bairro. A festa invadiu então, nos anos setenta, as ruas do entorno, onde se dispuseram barracas que vendiam iguarias e prendas.

Os 800 anos do nascimento de Santo Antônio foram comemorados de forma especial em 1995, quando seus devotos acorreram em grande número à Paróquia, que embora tenha como padroeiras Nossa Senhora dos Anjos e Sant’Ana, quem atrai as multidões é ele.

Hoje, a festa continua com a característica inicial de arrecadar fundos para a assistência dos excluídos. A Trezena dá início à festa; há também a tradicional distribuição do pão de Santo Antônio e a procissão no dia 13 de junho. A festa é parte do calendário oficial da cidade, e seu carro chefe — o “Angu da Porciúncula” — é uma tradição esperada por muitos no dia do Santo.

50 anos – Participação da Comunidade

Antiga Igreja da Porciúncula
Antiga Igreja da Porciúncula

O concílio Vaticano II quis olhar para o mundo hodierno e, preservando a doutrina cristã, atingir todos os níveis da atividade humana. Não se tratou de inventar uma nova fé, mas encontrar uma nova linguagem, um modo mais atual de apresentar ao mundo a verdade de sempre!

Talvez a característica marcante seja a colocação da língua nacional na celebração eucarística. Seu objetivo não foi apenas permitir o entendimento, mas permitir a participação mais consciente da assembleia e sua inserção ativa na ação litúrgica.

Buscando essa participação, nossa Porciúncula modificou e incluiu procedimentos e estruturas. Assim, coerente com os princípios do Concilio, inaugurou-se o altar, que hoje vemos, em 13 de abril de 1975, o que possibilitou a proximidade do sacerdote com a assembleia.

Entendendo que igreja é família, comunidade, onde todos os fiéis são corresponsáveis pela vida cristã e pela missão evangelizadora, paroquianos foram chamados a participar das diversas dimensões da Porciúncula. Em fevereiro de 1974, criou-se o Conselho Paroquial, com o objetivo de auxiliar o Pároco em suas decisões de ordem financeira. Com o fito de informar e evangelizar, iniciou-se a distribuição do nosso Boletim em fevereiro de 1975, cujos textos eram e são fruto da participação nossa. A dimensão família foi atendida com muito cuidado e apreço quando da realização do 1º Encontro de Casais com Cristo (novembro de 1976), do 1º Encontro da Juventude com Cristo (outubro de 1979) e o 1º Encontro de Adolescentes com Cristo (maio de 1984)

Hoje, persevera-se neste caminho, atualizando o meio, mas mantendo a mesma mensagem. Todos continuamos nas lides, cada um conforme seu dom e seu vigor, mas seguramente querendo ser indicadores do Caminho e aguardando a vinda de mais operários para esta messe grande.

Porciúncula antiga
Porciúncula antiga

50 Anos – Veneração

Era uma senhora plena em anos, cabelos brancos, filhos formados com suas próprias casas. Viúva, tinha consigo uma fotografia antiga do marido e conversava: “… todos já têm suas famílias, são responsáveis e vivem conforme você os ensinou…”. E, no silêncio da sala, num misto de saudade e gratidão, passou a mão por sobre a fotografia e ali colocou um beijo. Essa imagem não é rara, graça a Deus! A imagem nos conecta com uma outra realidade e nos faz ver exemplos de como proceder e buscar forças para evitar aquilo que não convém. A lembrança de atos e fatos vividos por aquele nos leva a uma veneração.

Nesse sentido, nossa paróquia é rica em imagens de santos, homens e mulheres que venceram a carreira e mantiveram a fé. Hoje são dignos de veneração e intercessores junto a Jesus Cristo, nosso único mediador.

Assim, a nossa Porciúncula, querendo propiciar um local de silêncio para oração e meditação, inaugurava, em 21 de outubro de 1979, a Capela da Sagrada Face. Em 1997, foi reinaugurada a Capelinha de Sant’Ana, nos fundos do terreno. No ano de 2005, em meio a obras de readequação de espaços, ela foi reduzida e criada junto dela a nova Capela Sant’Ana, clara e iluminada, contendo ao fundo um painel feito por Frei Benedito G. Gomes Gonçalves (Frei Dito), permitindo dois lugares de aconchego junto ao Senhor.

Vemos na Igreja imagens que nos recordam que o Caminho pode ser atingido, pois cada uma possui uma história de vida e uma riqueza em arte. Entre tantas, marcou o dia 04 de outubro de 1986, quando se inaugurou o monumento a São Francisco no Campo São Bento. Infelizmente, a imagem teve de ser retirada devido a danos causados por um temporal. Já, em 1999, o jardim interno recebia a estátua de São Francisco e a imagem da Sagrada Face de Cristo, ambas doadas pela artista plástica Marta Urupukina.

Exemplos a serem perseguidos e locais para encontro particular com o Senhor não podem passar desapercebidos, e nossa Porciúncula nos convida, inspirados em homens e mulheres santos, a seguir o Caminho e, num mundo corrido e barulhento, nos permite a permanecer por algum tempo num oásis de silêncio e introspecção.

Igreja Porciúncula de Sant'Ana
Igreja Porciúncula de Sant’Ana

50 anos de Paróquia Franciscana

É querer ser vento, que, inconstante, sopra e circunda, roda e areja, mas não para e segue adiante. E, assim, carregando sementes novas dá sempre novo início a uma planta. Ora é uma aragem fresca a renovar o ânimo de plantas novas e antigas. Ora sopra com força, arremessa areia sobre as plantas e as força a virar e ver outro caminho. Nisso tudo, só uma certeza, o vento é sempre de passagem ao contrário da planta, condenada a permanecer presa ao seu lugar, recordando ventos de outrora e dando boas-vindas aos ventos novos.

Seguir os passos de Francisco é ser vento, é plantar e mostrar o caminho correto do crescer! É querer se esquecer para não se esquecer do outro. É ser minore para lembrar que grande apenas Um!

Assim, apesar de plantas comuns, somos venturosos por integrarmos um cantinho de Francisco. Há 50 anos, temos freis a nos suportar (no melhor sentido e naquele não tão bom) e são indicadores do verdadeiro Caminho. Por aqui passaram mais de 60 frades, cada um com seu jeito de ser e pendor para um serviço pastoral, mas seguramente todos buscando obedecer à vontade daquele santo, que, relutante, pedia “não me façam um santo”.

Ao relembrar meio século de paróquia, é necessário não somente emergir memórias, mas valorizar e agradecer a passagem de cada frade, homens com defeitos e qualidades como qualquer um, mas com uma virtude: a vontade de seguir o Evangelho e viver o amor maior, o amor ágape!

Temos a graça de representar a Porziuncola de Francisco e, como aquela, transbordar este pedacinho e abrigar tantos quantos queiram se ajuntar para, sob o amparo fraterno de nossos minori, a Verdade única!

 Antônio Carlos Bodini Jr., Coordenador da Pastoral do Batismo da Porciúncula de Sant’Ana

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