A palavra “misericórdia” possui duas raízes: miséria e coração. Na mística cristã, é o ponto de encontro entre a divindade e a humanidade. O coração de Deus onipotente abraça a miséria da fragilidade humana traçando, pela via da misericórdia, um caminho de santidade e salvação. Deixar-se encontrar por Deus em sua miséria e finitude é a opção que liberta o ser humano de seus medos e condicionamentos mais profundos e o faz caminhar com coragem em direção à dor outro para acolhê-lo, abraçá-lo e reerguê-lo.
A Solenidade de todos Santos permite à Igreja-Povo de Deus celebrar o banho generoso de misericórdia que o Senhor oferece ao mundo através do testemunho de homens e mulheres que compreenderam a dinâmica salvífica apresentada por Jesus. Nas bem-aventuranças, o Mestre vem confirmar que o caminho da felicidade não passa pelas estradas do sucesso, do acúmulo de bens ou da conquista de um ilusório e passageiro poder.
A sabedoria do calendário litúrgico vem, de modo pedagógico e catequético, dispor de maneira imediatamente próxima o Dia de Todos os Santos (1º de novembro) e a Comemoração dos Fiéis Defuntos (Finados – 2 de novembro). Nestas duas datas, a saudade e a esperança caminham de mãos dadas, a onipotência e a fragilidade se encontram na fecundidade do mistério da vida, o tempo e a eternidade se abraçam demoradamente, a Paixão e a Ressurreição se apresentam como parceiras que dão sentido a toda e qualquer situação humana quando focalizada pelos óculos da misericórdia divina.
Frei Gustavo Medella