Batizados e amados por Deus

A Festa do Batismo do Senhor é uma grande oportunidade para também celebrarmos, espiritualmente, a graça do nosso Batismo. Através dele, assumimos uma nova identidade, marcada pela fé, que nos distingue, na sociedade e no mundo, como discípulos e discípulas do Senhor Jesus.

O profeta Isaías introduz a profecia, que será cumprida no batismo de Jesus, com palavras de consolação que são sussurradas “ao coração de Jerusalém”, mas que são também gritadas sem temor de “um alto monte”. Essa aparente contradição entre o sussurro e o grito se deve ao fato que a consolação é ao mesmo tempo um fato íntimo e profundo que toca as cordas secretas do coração, que cura os sofrimentos e as doenças, mas também é um fato público, que envolve o povo. Nós não somos habituados à linguagem da consolação do povo, mas a fé é isso! É anúncio de um Deus que salva toda a humanidade, que guia a nossa história pessoal e do mundo através dos séculos. 

No batismo de Jesus, Deus entrou na história que já lhe pertencia. E, através do nosso batismo, passamos a tomar parte da graça de Deus, marcados interiormente, no coração, pelo amor de Deus. Esse amor provoca uma mudança no modo de ver o mundo, as coisas e a realidade que está ao nosso redor. 

Somente assim poderemos entender porque o batismo é um ponto de partida na vida de Cristo, mas também do cristão. Por isso, não devemos fechar o coração ao agir da graça de Deus na nossa vida. Ela continua transformando o batizado durante toda a sua existência, para torná-lo um outro Cristo, capaz de sentir aquilo que ele sente, de escolher aquilo que ele escolhe, de amar aquilo que ele ama, de ter compaixão pelo seu próximo e viver a vida com esperança.

Segundo o texto do Evangelho de Lucas (Lc 3,15-16.21-22), o povo que esperava uma resposta histórica, de fé, da parte de Deus, diante dos feitos de João Batista, no íntimo do coração se perguntava: “Quem é este homem? Não será ele o Messias que deve vir? Porque viam nas atitudes de João Batista, cheio de zelo por Deus e de compaixão pelo povo, um sinal dos novos tempos, que a profecia da vinda do Messias estava para ser realizada.

João Batista não fazia distinção de pessoas, atendia o povo simples, os soldados, os publicanos e até mesmo o poderoso Herodes o tinha em consideração. Ninguém como ele foi capaz de esperar e desejar a salvação de todos. Mas ele não era o Cristo. E João, consciente da sua missão, o anuncia às multidões, antes mesmo de o acolher,às margens do Rio Jordão, onde ele estava, na fila com os pecadores, para receber o batismo de João. 

A manifestação de Jesus como o Cristo não é feita com sinais mirabolantes, mas na mansidão de uma palavra de amor pronunciada pelo Pai, em resposta à oração silenciosa do Filho. “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer”. No Filho amado, todos os homens e mulheres são efetivamente salvos, porque amados e perdoados. 

No seu estar no meio de nós, Jesus nos abre à esperança a partir do nosso interior, nos ensina o caminho da salvação, convidando-nos a renascermos pela água do seio materno da Igreja e na humilde confissão dos nossos pecados. A fonte batismal que nos acolheu a todos foi o ventre da Mãe Igreja, e o nosso batismo é a experiência de sermos gerados para Deus e participantes da mesma experiência divina de Jesus. Também sobre nós, no segredo da oração que o Espírito elevou ao Pai durante o nosso batismo, aconteceu o doce anúncio: “Tu és meu filho amado, tu és minha filha amada”. Cada vez que retornamos ao Pai, confirmamos a nossa filiação à Igreja, que será sempre e somente povo de Deus a caminho, em continuo processo de conversão, porque aberto à graça e à misericórdia do Pai. Em oração e com o coração aberto, para escutar em silêncio ou no júbilo a voz do Pai: “Este é o meu filho amado, esta é minha filha amada”.

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

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