Alegria

Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo, alegrai-vos! O Senhor está perto (Fl 4,4-5)

A alegria é um presente belo, mas também vulnerável. Um dom que devemos cuidar com humildade e generosidade no fundo da alma. O romancista alemão Hermann Hesse diz que os rostos atormentados, nervosos e tristes de tantos homens e mulheres se devem ao fato de que a felicidade só pode senti-la a alma, e não a razão, nem o ventre, nem a cabeça, nem o bolso (Pagola, Lucas p. 25)

♦ Este terceiro domingo do advento é conhecido como domingo da alegria. A leitura do profeta Isaías hoje proclamada respira, transpira exultação. “Alegre-se a terra que era deserta e intransitável exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores”. A comemoração do nascimento de Jesus e tudo a ele vinculado constituem os motivos da alegria. Nunca nos esqueçamos que a ressurreição do Senhor é que nos trouxe indelével alegria. “Maria, por que choras? Não roubaram o teu Senhor. Ele vive. Ninguém pode tirar a tua alegria”. A singeleza da proximidade de Deus, sua visita no Menino das Palhas, faz com que tenhamos confiança no futuro. Esse Deus que se manifestou no Natal quer ser Deus conosco, quer acompanhar nossos passos, estar perto de nossos acertos e relativizar nossos desacertos.

♦ João Batista se posta diante de nós pedindo que preparemos os caminhos do Senhor, que venhamos a desobstruir nosso interior para que a brisa suave do Senhor nos visite pessoalmente e que sempre de novo retomemos nosso processo de conversão pessoal e no seio da Igreja. Para receber o Salvador, a casa precisa ter nas paredes, portas, janelas e dependências o perfume da verdade, da coerência, de vida feita para os outros e devotado ao que nos ama até o fim. E sobretudo o desejo que é sede do Mistério no qual estamos imersos. Sem conversão perecemos.Vegetamos. Viver a ilusão da vida. E a vida não pode ser ilusão.

♦ Tudo isso precisa nos envolver em clima de alegria. Tema difícil, esse da alegria. Não se trata de sermos adeptos de uma felicidade pequena, conforto, carros, dinheiro rendendo enquanto dormimos, nossos filhos bem na vida, risos, viagens. Merecemos tudo isso e temos direito a esses momentos de contentamento. Consistirá nisso a alegria?

♦ Talvez a razão de tantas alegrias fugazes se deva ao fato de esquecemos de cuidar de nossa vida interior e assim é importante para nós o que vem de fora, coisas, tudo fugaz. Pagola assim reflete: “A alegria não é fácil. Não se pode forçar ninguém a ficar alegre; não se pode impor a alegria a partir de fora. A verdadeira alegria deve nascer do mais profundo de nós mesmos. Do contrário será riso exterior, gargalhada vazia, euforia passageira, mas a alegria ficará fora, à porta de nosso coração” (Pagola, Lucas p.25).

♦ Jürgen Moltmann: “A palavra última e primeira da grande libertação que vem de Deus não é ódio, mas alegria; não é condenação mas absolvição. Cristo nasce da alegria de Deus e morre e ressuscita para trazer alegria a este mundo contraditório e absurdo”.

♦ A alegria se manifesta de múltiplas maneiras:

Há certamente grandes manifestações de alegria: espetáculos de música, dança, festas mais importantes em que o corpo participa de uma alegria interior: canto, danças, fogos ,vida celebrada.

Há essa refeição entre amigos para comemorar um aniversário ou um evento com o rito do estar juntos, a beleza da toalha e o carinho do que se come como sacramento da estima ou mero café expresso por duas pessoas que se encontraram na rua e se estimam.

Alegria tão simples: um e-mail carinhoso, um delicado presente que recebemos, o sorriso e o beijo que menino levado recebe do pai depois de um bom pito, o menino se achega junto ao peito do pai, alegria do dever cumprido mesmo com certa dificuldade, a alegria estampada no rosto da senhora de idade descascando goiabas para fazer geleia…alegria que tem a ver com paz da consciência e confiança no amanhã, alegria do casal que passa pela igreja depois do nascimento do primeiro filho, alegria do resultado de uma biopsia, alegria da família que recebe para um almoço festivo o pai que, por caprichos do destino, cometeu um infração e passou meses prisão… alegria que não consiste em gargalhar mas sorrir chorando ou chorar sorrindo.

♦ Precisamos saber fazer festa: a festa interrompe a rotina cheia de tédio, reúne os dispersos, celebra a vida, confraterniza… O homem não é apenas feito para o trabalho e ficar preocupado com os lucros mas precisa cantar, dançar, gostar das cores, de claridade e não apenas do cinzento.

♦ Pode ser que muitos fizemos que o cristianismo se assemelhasse a uma realidade enfadonha, marcada pelo tédio… celebrações pesadas, discursos ameaçadores sobre castigos e pecados… Há pessoas que bocejam durante uma celebração eucarística. Será que sabemos festejar? Pode ser que mesmo as festas mais tradicionais sejam marcadas pelo vazio. A celebração pode ser uma festa?

♦ Paira sempre um terrível mistério. Como alegrar-nos com nossos fracassos, com os sofrimentos do corpo, com filhos que morreram na luta contra a bandidagem… Será preciso ler a gramática da cruz do Senhor.

♦ Há alegrias mais profundas como a de sabermos que fomos inventados pelo amor para amar. Que Deus não nos criou para vivemos oprimidos, na miséria, na dor. Somos resultado de um plano de amor e esse plano não se interrompe. E esse amor se manifesta no presépio do Menino das Palhas. Valemos muito as olhos de Deus. Delicado falar do tema da alegria quando sofremos injustiças, padecemos no corpo e no espírito. Deus sabe tirar proveito para nos mesmo quando os dias são de verter lágrimas.

♦ Cristãos e fiéis temos a convicção, apesar de sinais exteriores dizerem o contrário, de que nosso destino é a glória. Alegria da esperança de sermos acolhido por Deus amor na soleira da sala do banquete da glória. Carregamos no nosso mistério pessoal, ao longo da vida, sementes da festa que não acaba. Tudo muda quando ser humano se sente acompanhado por Deus.

Oração

O Senhor anda espreitando as agruras
que vivem os seus.
Uma voz grita:
“Fortalecei as mãos enfraquecidas.
Firmai os joelhos debilitados.
Criai ânimo,
Deus vem e vem para salvar”.
Os olhos dos cegos vão se abrir.
As pessoas poderão vislumbrar o sentido de seus dias.
Os surdos ouvirão palavras que partem do coração de Deus
e que atingem as pessoas de coração contrito.
Alegria pela vida, por ver os campos floridos,
alegria que se manifesta em nossos cantos e jubilações,
alegria que é presente dado aos que se entregam ao Mistério.
Alegria de vivermos novamente a esplendorosa humildade
Do nascimento de Deus na terra dos homens.
Alegrai-vos sempre no Senhor.

Frei Almir Guimarães
Fonte: site Franciscanos

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