A tarefa de vencer as próprias “cabritices”

Ovelha e cabrito. Ela, a mãe do cordeiro. Ele, o filhote do bode. No Evangelho deste domingo de Cristo Rei (Mt 25,31-46), ao falar do Juízo Final, Jesus se utiliza da imagem destes animais para distinguir aqueles que fizeram a vontade de Deus e aqueles que se entregaram aos próprios caprichos. Os que acertaram são as ovelhas, e os que erraram, os cabritos. Para as primeiras, o convívio eterno de amor e paz junto a Deus. Aos segundos, o isolamento de uma eternidade sem esperança e angustiante. Diante da comparação, poderia se pensar: “Afinal, o que Jesus tinha contra os bodes, as cabras e os cabritos? Será que levara alguma cabeçada de um deles durantes suas andanças? Ou o berro deles o irritava?”. Mais provável é que não seja nenhuma destas hipóteses. Arrisquemos que Jesus precisava de algum animal para fazer a comparação e aí teria sobrado para o “bode expiatório” do cabrito.

E a ovelha? Por que esta predileção? Arriscando outro palpite, este, penso eu, é mais plausível, pois recordemos que a ovelha gera o cordeiro. E, como o próprio Cristo se definia como o Cordeiro de Deus, por analogia, pode-se concluir que ovelha é todo aquele ser humano que se esforçou para gerar o Cristo na própria vida e com a própria vida. E como se gera Cristo? Aí é mais fácil responder. Aliás, o próprio Evangelho dá a resposta. Gerar o Cristo significa “ser bom”, no seu sentido mais profundo e pleno. É ter empatia e saber que, se eu sinto frio, fome, tristeza, solidão etc., o outro também sente; se eu posso ficar doente, o outro também pode. É sentir-se responsável pelo outro e ir ao encontro de suas necessidades com a mente, com o coração e com as mãos. É esquecer-se um pouco de si para se lembrar mais de quem precisa. É dar menos cabeçadas e berros que ferem agridem para docilmente se colocar à disposição do Reino, sem alarde, sem muito barulho e autopromoção.

Mas e eu? Neste rebanho chamado humanidade, para Deus, sou ovelha ou cabrito? Mais importante do que achar uma resposta pronta, penso ser uma tarefa de cada um construir a sua resposta, com empenho e dedicação, dia a dia, abandonando gradualmente as próprias “cabritices” para seguir com mais liberdade e leveza ao encontro do Rei Jesus.

 

Frei Gustavo Medella
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?

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