À disposição daquele que vem depois

“Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das suas alparcatas” (Evangelho de Marcos 1,7).

Essa é uma frase de João Batista, o último dos profetas do Antigo Testamento, o maior entre os nascidos de mulher, segundo as palavras do próprio Jesus. João fala de alguém que vem após ele e que é mais forte do que ele. João é o homem cunhado nas asperezas e provas do deserto. O homem que não se deixava ir para cá ou para lá como um bambu (caniço) tocado pelo vento. Era firme, e se alimentava das doçuras da palavra de Deus (mel silvestre). Esse homem ficou forte se revestindo das virtudes (pele de camelo) com as quais se habituou ao entregar-se ao trabalho da graça de Deus (o nome João significa Graça, Misericórdia de Deus) em sua vida no deserto.

Depois dele viria, então, alguém mais forte. Isto é, alguém mais virtuoso, revestido de uma virtude não da terra ou dos homens, mas do céu e pela graça do Pai por meio de seu Santo Espírito. De igual modo, no tempo do Advento cada homem e mulher de alma boa que deseja Deus, à semelhança de João Batista, encontram em seu próprio deserto interior o modo de exercitar-se na escuta da doce Palavra de Deus, e se robustecer na vida da graça para ficar à disposição daquele que vem depois. Cristo vem depois que em nosso deserto espiritual tudo serena, se aquieta; se despoja; se endireita. Preparai os caminhos do Senhor que são direitos; retos e justos; proclamava também João Batista.

Esse caminho se abre de dentro para fora de nós, e é por Ele que Cristo se manifesta naqueles que o recebem como aquele do qual não somos dignos de desatar as correias do calçado. Tal qual João Batista não somos nem dignos de sermos servos do Senhor. Mas como não somos dignos de sermos servos Dele, Ele vem a nós e como servo, se inclina aos nossos pés para nos ensinar e para aprendermos a sermos servos como Ele é servo. E ao sermos servos como Ele, no cumprimento da Vontade do Pai, nos tornamos fortes como Ele. Com outras palavras, a sua graça, o seu amor, o seu cuidado, a sua Misericórdia e ternura, que são as forças primordiais da Salvação de Deus, passam a vigorar em nós como vigora Nele. Esse vigor Divino em nós é que é a nossa força (O senhor é a força de seu Povo, diz o Salmo 28,8).

Talvez o tempo do Advento seja essa experiência de nos prepararmos para aos poucos ir recebendo, isto é, irmos sendo tomados pela força de Deus em Jesus Cristo. E uma vez revestidos dessa força de Cristo, e sermos servos dela, pois ela atua em nossa fraqueza nos fazendo fortes, de tal maneira que podemos exclamar como Paulo em 2 Coríntios 12,9: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim”. 2 Coríntios 12:9. Sobretudo, para que sejamos forte em meio aos insultos, nas necessidades, nas perseguições, angústias e humilhações que tentam impedir em nós a graça; a vida; a paz, a inocência, e o amor que nos é dado viver e reviver no Mistério do Natal do Senhor.

José Irineu Nenevê

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