A celebração de um Deus em fuga

“Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito. Porque Herodes vai procurar o menino para mata-lo” (Mt 2, 13b). Na Sagrada Família, Deus se coloca em fuga e mostra o quão se torna difícil para o divino habitar onde o egoísmo, a sede de poder, a prepotência e a ganância se tornam lei. Não se trata de uma espécie de “derrota” da Onipotência, mas a insistência do Senhor em acreditar num caminho pacífico de conversão para seus filhos e filhas. Esta postura humilde e abnegada faz parte do projeto da Encarnação.

Celebrar a Sagrada Família significa renovar a disposição de se colocar em movimento e vencer o medo que sufoca as esperanças e subtrai o ânimo de quem decide apostar na construção de um mundo diferente. A ousadia de José e Maria que, sob a orientação do anjo, se colocam num desafiante percurso de itinerância, vem nos ensinar que, na provisoriedade dos esquemas humanos, habita uma força singela e poderosa capaz de guiar os passos de quem se confia aos desígnios de Deus.

Que, ao celebrar a Sagrada Família, renovemos, no profundo do nosso ser, a coragem de, mesmo diante de uma cultura de ódio, de morte e de destruição, colocar-nos corajosamente na contracorrente, seguindo as orientações de São Paulo em sua Carta aos Colossenses: “Revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição” (Cl 3, 12b-14).

FREI GUSTAVO MEDELLA, OFM,

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