NO DESAPEGO ESTÁ A SABEDORIA E A ALEGRIA DE VIVER
O tema central do Evangelho de Marcos é a pobreza voluntária para o seguimento de Cristo. O Texto do Evangelho que vamos refletir está divido em três partes distintas. O primeiro: o diálogo do jovem rico com Jesus; segundo: os ensinamentos de Jesus aos discípulos sobre os bens materiais e o terceiro: é a recompensa da vida eterna aos que tem um coração generoso. No desprendimento está a alegria de viver.
Para a mentalidade semita e veterotestamentária, a riqueza era sinal do favor divino e constituía um bem, se não absoluto, pelo menos relativo na vida do homem. Jesus relativiza totalmente a riqueza, prevenindo até os graves riscos para se obter o reino dos céus: “como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus” (Marcos 10,24). O apego aos bens endurece o coração, e dificulta a partilha.
Embora a opção voluntária pela pobreza seja difícil, felizmente tudo é possível para Deus. Ele faz maravilhas para quem se abre totalmente. Quem se esvazia de si mesmo diante de Deus e se desprende do apego aos bens terrenos, encontrará a alegria de viver. Percebe que tudo o que tem, é muito, e não sente falta de mais nada, por ser feliz e completo na busca da razão de ser: filho de Deus, origem e destino. Veio sem nada e sem nada irá à Casa do Pai.
A verdadeira pobreza não está naquilo que temos, mas na maneira como dispomos do que possuímos. À medida que somos escravos dos bens e não sabemos partilhar com o necessitado, seremos infelizes. E se nos fecharmos ao próximo, não haverá lugar para Deus em nosso coração. O apego pode nos levar a ter muito, mas não ter o principal, a paz interior e a alegria de viver. “Eu vim para servir e para que todos tenham vida”, diz o Senhor.
A pobreza ou o desapego nos liberta da escravidão do consumismo, do desejo do ter mais a qualquer custo, até de destruir ou tirar a vida do próximo, quando não dentro da própria família na disputa de herança. A ganância nos torna cegos e impiedosos com os irmãos que sofrem. O mundo não necessita apenas de pão, mas de amor, de corações generosos capazes de partilhar. A graça está em ser alimento para o corpo e para a alma, ser o verdadeiro pão da vida.
Sabemos que ninguém é feliz por aquilo que tem, mas por aquilo que é diante do que tem. “De que serve o homem ganhar o mundo, se perde a sua própria vida? O que pode um homem dar em troca de sua vida?” (Mateus 16,26). O pecado não está em ter, mas a maneira como se adquiriu e como dispõe do que possui. O ter pode me santificar à medida que eu saiba partilhar. Ajuda-me Senhor a ter um coração generoso e a encontrar o verdadeiro tesouro: a Caridade. Se dar e se doar por amor.
Frei Sergio Pagan