Viver o Advento em meio à Sexta-Feira da Paixão?

luto_futebol         Foto: Torcedores acenderam velas para a Chapecoense no estádio Atanasio Girardot (Luis Acosta/AFP)

Um avião tripulado pelas melhores expectativas, por sonhos acalentados há dezenas de anos, de repente se desmancha sobre o solo alguns quilômetros antes do local do pouso. Um time praticamente inteiro tem sua trajetória, repleta de façanhas e duras conquistas, brutalmente interrompida. Tragédia que nos coloca face a face e sem disfarces diante dos absurdos que podem fazer parte da vida.

Fato que gera espanto, comoção e mobilização. Em meio a um cenário marcado pela morte, pela dor, pelo choro e pela perda, onde haveria espaço para se encontrar vida e esperança? Quais seriam as possibilidades de se perceber a semente do Advento em meio a um trágico evento que remete de cheio à Sexta-Feira Santa? Como ser, diante de um cenário apavorante, sinal de alento? Eis o desafio.

Enxergar uma tragédia à luz do Advento é contemplar uma contradição, é notar a força que um fato extremo e absurdo desta natureza tem para despertar no profundo dos seres humanos o que eles têm de melhor. Sinal de advento é ver e ouvir milhões de manifestações de solidariedade às vítimas e familiares, é contemplar a produção de artistas e músicos dando o melhor de si em emocionadas homenagens, é ver a iniciativa de clubes que são adversários nos campos unindo-se para socorrer a equipe de Chapecó com possíveis empréstimos de jogadores para as próximas temporadas e outras iniciativas.

Para acudir a dor do outro, Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Vasco etc. deixam de lado as rivalidades e se lançam no projeto comum de colaboração, fazendo recordar a profecia de Isaías apresentada na Primeira Leitura deste 2º Domingo do Advento. “O lobo e o cordeiro viverão juntos e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leão comerão juntos e até mesmo uma criança poderá tangê-los” (Is 11,6). Esta união num momento de dor deve ser semente de esperança que mostre que também no mundo do futebol as relações podem ser diferentes, iluminadas pela mística do Advento, sem brigas, agressões, guerras entre torcidas, mas todos caminhando juntos, sem violência! Sonhos que o advento nos permite cultivar!

O 2º Domingo do Advento faz lembrar que cada vez se aproxima mais o Nascimento do Menino. Que este Deus Criança, naquilo de mais puro e transparente que os pequenos trazem em si, seja também fonte de consolo a filhos, pais, mães e familiares que, no próximo dia 25, passarão o Natal sem a presença física daqueles a quem tanto amavam. Força, fé, solidariedade e paz.

 

Frei Gustavo Medella

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