Tempo das preparações

A vida nunca está pronta. Há que recomeçar sempre de novo. A cada período nascemos de uma outra maneira. Saímos do seio da vida, crescemos, vivemos, sofremos, sonhamos, amamos. Um pedaço de nós vai ficando para trás. E andamos… escolhemos estradas… percorremos caminhos. Estamos no caminho do Advento que nos leva até o Mistério da encarnação do Verbo. Esse Jesus que sempre buscamos se diz Caminho. E as leituras deste domingo nos falam do caminho e de estradas que nos levam ao Mistério.

Isaías pede que seja preparado um caminho para o Senhor no deserto. As penas terminaram. A mão do Senhor deixou de pesar. Sua glória vai manifestar-se. “Que todo vale seja entulhado e que toda colina ou montanha seja abaixada”. Ele vem, o Senhor, vem como um Pastor. Vem apascentar e reunir. Carregar os cordeiros nas dobras de seu manto. Conduzir lentamente as ovelhas que amamentam. O profeta nos pede para preparar uma estrada para o Senhor. Deserto de silêncio de nossos gritos. Deserto despojamento de nossa autossuficiência.

Ao longo do tempo da vida vamos mudando. Quando éramos crianças esperávamos o Natal com uma alegria incontida: os presentes, o presépio, as rabanadas. Depois, quem sabe, tenhamos vivido um Natal mais íntimo. Nesse período gostávamos de preparar coisas para os pobres, discretamente. A vida, no entanto, foi nos fazendo duros por dentro. A gente se acostuma a tudo. Até ao inaudito do Deus belo e grande que nasce num presépio e choraminga como todo pequerrucho. Nada de extraordinário. Um Natal banal. Presente para o namorado e afilhada. Ceia aqui ou ali. Tudo igual. Sempre o mesmo.

No meio-dia da vida experimentamos coisas diferentes. Temos sede de plenitude. Temos urgência de deixar tombar o que foi acrescentado ao nosso eu mais profundo para enfeitar-nos. Deus vem, vem no Menino das Palhas e no Jesus andarilho, provocante, provocador, vivo. Não podemos parar na candura do presépio. Meu coração precisa buscá-lo. Há uma urgência de conversão. Apareceu um homem no deserto chamado João, o Batista, o “batizador”. “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai suas veredas”. Rude, áspero, profeta esse João queria preparar os caminhos para aquele que devia vir. As pessoas entravam no Jordão. Arrependimento. Desejo, sede de purificação. Mais tarde viria alguém que batizaria no Espírito, na água do Espírito. Tudo isso tem a ver com advento.

Tempo de Advento, tempo de reorientação do melhor que existe em nós para o Oriente, o Sol.

Converter = deixar o Ocidente, onde morre o astro luminoso e buscar o Nascente.

A conversão de que fala Jesus não é algo forçado; é uma mudança que vai crescendo em nós na medida em que tomamos consciência de que Deus é alguém que deseja que aprendamos a fazer nossa vida, mais humana e mais feliz. Conversão não é algo triste. É limpar nossa mente de interesses e egoísmos que minimizam. Libertar o coração de angústias e preocupações. Libertar- nos de objetos de que não precisamos mais e viver para a pessoas que precisam de nós. Alguém começa a entrar num processo de conversão quando descobre que o importante não é se perguntar como posso ganhar mais dinheiro, mas como posso ser mais humano, como posso chegar a ser eu mesmo.

Na medida em que vamos avançando em idade e ganhando sabedoria compreendemos que no tempo do Advento há esse pedido de nos desvencilharmo-nos de nós mesmos e viver o mais humanamente. Para nós vivenciar o Advento é viver em clima de mudança do coração.

Karl Ranher
Vamos, não questiones, não duvides. Ó meu coração, tu já escolheste alegria do Advento. Mesmo lutando contra tuas próprias incertezas: “É o advento de nosso grande Deus!”. No instante em que dizes isto na fé e no amor torna-se o ponto que integra teu passado e teu futuro: teu passado colocado sob o signo da salvação, um futuro que será eterno e sem limite. Porque o que entra agora em teu coração, é Alguém: o Advento em pessoa, o Acontecimento do futuro sem fim; é próprio Senhor que veio no seio de nossa carne para resgatá-la.

Uma prece
Aqueles que te amam,
Senhor, nada têm a temer,
coloca teu amor em nossos corações
para que vivamos na paz.
Por Jesus, o Cristo, nosso Senhor. Amém.

Frei Almir Guimarães
Fonte: site Franciscanos

Share on facebook
Share on twitter
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email
Share on print