Todos os anos a Igreja abre os domingos da Quaresma com as tentações de Jesus no deserto. Se a Quaresma é um tempo de revisão de vida e de purificação, as três tentações sofridas por Jesus resumem as grandes tentações que a criatura humana sofre ao longo da vida. As mesmas tentações de Adão no paraíso terrestre (Gn 3). Tentações que, se não forem vencidas, nos impedem de celebrar a Páscoa e dela receber os frutos da redenção.
A primeira é a tentação de antepor os bens materiais aos bens espirituais. A luta pela conquista do pão e tudo o que o pão significa pode levar-nos a não nos alimentar da Palavra de Deus e, como consequência, a sermos fracos diante das vicissitudes da vida e a desanimarmos na caminhada da santidade. A segunda é a tentação do poder, acompanhada de sua irmã gêmea, a tentação de dominar, que impedem a vida fraterna e comunitária, fundamental no Reino de Deus. A terceira é a tentação do orgulho, que pode chegar ao ponto de determinar o que Deus pode ou não pode fazer. O orgulhoso é incapaz de um relacionamento com Deus.
Nas três tentações estão incluídas muitas outras. Na primeira, por exemplo, com facilidade, encontramos a gula e a ganância, a avareza, o mau costume da propina e o apego doentio aos bens materiais. A segunda, a do poder, faz-se sempre acompanhar da injustiça e da exploração, da violência e da insensibilidade, da eliminação violenta ou astuta de adversários ou concorrentes, da prepotência e da inveja, do luxo e da aparência. A terceira traz consigo a soberba e a vanglória, a impiedade e a hipocrisia, a arrogância e a blasfêmia, a autossuficiência, o desprezo da graça e a incredulidade. Toda pessoa adulta tem experiência, em maior ou menor grau, dessas tentações. A superação das tentações por parte de Jesus é uma grande lição de comportamento para cada um de nós.
Frei Clarêncio Neotti