“Quando as cortinas se fecham”, reflexões para este domingo

O que acontece com o palhaço depois que o espetáculo acaba? E com o ator, depois que as cortinas se fecham? A magia do picadeiro e do palco levam o ser humano a transcender-se, a encontrar em si forças sobre-humanas capazes de comover, mobilizar, fazer rir e chorar. Concluída a missão, palhaço ou artista ou cantor volta para a casa da própria humanidade, no contato íntimo com a própria solidão. Ali, ele tem acesso ao sacrário da sua consciência que lhe permite perceber-se um ser de luzes e sombras, marcado por alegrias e tristezas, esperanças e decepções.

Jesus, no Evangelho deste 5º Domingo do Tempo Comum (Mc 1,29-39), vive experiência semelhante. Depois de manifestar seu poder e sua autoridade ensinando, expulsando demônios e curando, coloca-se a sós consigo mesmo e com o Pai: “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35). Antes, o imenso número de pessoas indo a seu encontro, ouvindo-o atentamente, admirando-se com seus feitos. Agora, a escuridão da noite e a solidão do deserto. Ao contrário do que se poderia pensar, esta experiência não é para Jesus ocasião de melancolia ou desespero, mas hora de rezar, de colocar o mais profundo de si em comunhão também profunda com o Pai. É hora do discernimento.

Talvez Jesus, em seus muitos momentos de solidão orante, tenha feito a experiência de Jó, quando este diz: “Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra?” (Jó 7,1). Pode ser também que, muitas vezes, tenha sentido a força e o vigor de São Paulo quando este escreve em sua Primeira Carta aos Coríntios: “Pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o evangelho!” (1Cor 9,16).

Assim como o Mestre, todo aquele que se propõe a segui-Lo, percebe a necessidade destes momentos de parada, onde o que importa é somente “aquilo que a pessoa é diante de Deus e nada mais”, conforme ensina São Francisco de Assis. Discernimento é a palavra da vez, é o momento de avaliar a caminhada e recobrar a força para o seguimento de Cristo Jesus?

 

Frei Gustavo Medella

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