Preparando os caminhos do Senhor

 

Um dos nossos companheiros de caminhada no tempo do Advento é João Batista, o filho da velhice de Isabel e Zacarias. Frequentador do deserto e homem revestido de retidão, pregava um batismo de conversão, de transformação da pessoa e da sociedade. Os relatos evangélicos dizem que as pessoas chegavam, ouviam-no com o coração e pediam o batismo de conversão no rio Jordão. O rito do banho apontava para um desejo de mudança de vida.

A missão da Igreja é precisamente a mesma do Batista: tocar o coração das pessoas e da sociedade para que entrem num caminho, num processo de conversão. Para isso existem os cristãos, as paróquias, os serviços pastorais, as casas e mosteiros dos religiosos. Quem opera, de fato, a conversão dos homens e das mulheres é Cristo Jesus, vivo e ressuscitado. O Batista insistia que ninguém se fixasse nele, mas no Cristo que ele anunciava. Nós, cristãos, de modo particular os agentes de pastoral, os pais, os educadores cristãos, nada mais somos do que preparadores dos caminhos do Senhor. O resto é obra da graça e da abertura do coração. Preparadores dos caminhos, mas servos de Deus, embora inúteis.

Onde estão os pontos fracos da epopeia vitoriosa que os homens pensam estar vivendo? Como voltar ao Senhor? Onde a pessoa pode ser atingida? Como podemos preparar os caminhos para que o Senhor chegue às pessoas?

Antes de mais nada será fundamental uma coerência entre o discurso e a vida. As pessoas acreditam em testemunhas e não em meros repetidores de fórmulas e palavras muitas vezes gastas. Vivemos, mais do que em outros tempos, a época das testemunhas e não dos oradores que se escutam falar.

Tudo indica que uma fresta por onde Deus pode penetrar nas pessoas é a do coração contrito. Será preciso sair de um pedestal de onipotência e reconhecer a falha, a negligência, o culto ao próprio ego. O Senhor não rejeita um coração contrito e humilhado.

“Marcos nos recorda o grito do profeta em pleno deserto: “Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas”. Onde e como abrir caminhos para Deus em nossa vida? Não devemos pensar em vias esplêndidas, amplas e desimpedidas por onde chegue um Deus espetacular. O teólogo catalão J.M Rovira nos lembrou que Deus se aproxima de nós buscando a fresta que o homem mantém ao verdadeiro, ao bom, ao belo e ao humano. É a esses resquícios de vida que devemos prestar atenção para abrir caminhos para Deus” (Pagola, Marcos, p.22).

Talvez fosse importante dar o testemunho e usar a fala de uma vida menos complicada e mais simples. O cristianismo representa um estilo de vida alternativo. Trata-se de viver os valores “subversivos” do Evangelho: perdão diante da violência, partilhar em vez de acumular, cooperar em vez de competir, buscar ser comedidos e não consumistas, amar sem esperar retorno, dar a vida pelos outros e não andar atrás de píncaros e sucessos apenas para nós.

Há pessoas que vivem uma vida sem graça, fragmentados em mil pedaços, pelo ruído, pela retórica, pelas ambições e pela pressa. Quem sabe poderão reencontrar a Deus se encontrarem um fio condutor que humanize sua vida.

A conversão afeta o mais íntimo de cada pessoa, trata-se de um encontro pessoal com o Deus vivo que “balança” a vida, trata-se de uma alegre submissão à vontade do Senhor, postura de confiança no futuro, resposta a um Deus que fascina e coloca ordem em nosso coração.

 

Frei Almir Guimarães

Share on facebook
Share on twitter
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email
Share on print