Precisamos orar

crianca_rezandoTalvez a tragédia mais grave do ser humano de hoje seja sua crescente incapacidade para a oração. Estamos esquecendo o que é orar. As novas gerações abandonam as práticas de piedade e as fórmulas de oração que alimentaram a fé de seus pais. Reduzimos o tempo dedicado à oração e à reflexão interior. Às vezes excluímos praticamente a oração de nossa vida.

Mas não é isto o mais grave. Parece que as pessoas estão perdendo a capacidade de silêncio interior. Já não são capazes de encontrar-se com o fundo de seu ser. Distraídas por mil sensações, embotadas interiormente, presas a um ritmo de vida afobado, estão abandonando a atitude orante diante de Deus.

Por outro lado, numa sociedade na qual se aceita como critério primeiro e quase único a eficácia, o rendimento ou a utilidade imediata, a oração fica desvalorizada como algo inútil. Facilmente se afirma que o importante é “a vida’: como se a oração pertencesse ao mundo da “morte”.

No entanto, precisamos orar. Não é possível viver com vigor a fé cristã nem a vocação humana subalimentados interiormente. Mais cedo ou mais tarde, a pessoa experimenta a insatisfação produzida no coração humano pelo vazio interior, pela trivialidade do cotidiano, pelo tédio da vida ou pela falta de comunicação com o Mistério.

Precisamos orar para encontrar silêncio, serenidade e descanso que nos permitam sustentar o ritmo de nossos afazeres diários. Precisamos orar para viver em atitude lúcida e vigilante no meio de uma sociedade superficial e desumanizadora.

Precisamos orar para enfrentar nossa própria verdade e ser capazes de uma autocrítica pessoal sincera. Precisamos orar para nos libertarmos aos poucos daquilo que nos impede de ser mais humanos. Precisamos orar para viver diante de Deus em atitude mais festiva, agradecida e criativa.

Felizes os que também em nossos dias são capazes de experimentar nas profundezas de seu ser a verdade das palavras de Jesus: “Quem pede está recebendo, quem busca está encontrando e a quem bate estão abrindo”.

José Antonio Pagola
Trecho do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, de José Antonio Pagola, Editora Vozes.

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