Precisamos erguer os ramos da esperança

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“Eles [os mortais] passam como o sono da manhã, são iguais à erva verde pelos campos: De manhã ela floresce vicejante, mas à tarde é cortada e logo seca” Sl 89,5-6.

O Salmo descreve a finitude da vida humana e a compara com a erva verde que amanhece vicejante mas, ao ser cortada, logo seca. Faz lembrar os ramos levados para a Igreja no próximo domingo, que são abençoados e levados para casa, onde permanecem guardados e secam. Basta olhar o ramo que você trouxe no ano passado: certamente estará bem seco.

Estes ramos, inicialmente verdes e depois secos, representam a postura de muitos que se julgam próximos de Cristo. Primeiro o aclamam, o festejam e recebem-no com honras quando chega a Jerusalém. Em torno dele, uma grande expectativa de mudanças e libertação. Julgavam ser ele o Messias esperado, o libertador de Israel. No entanto, tal aclamação se pautava por uma euforia repleta de ilusões, sem uma reflexão mais profunda e consciente do que de fato significava a presença do Filho de Deus feito homem no seio da humanidade. Uma expectativa imatura de quem acha que a solução dos problemas está no uso da força, que as transformações acontecem num passe de mágica e que a liberdade se proclama por decreto.
No chão da realidade, a vida não funciona assim. E foi a falta desta consciência que transformou a vibração das ramos verdes na secura cruel e incendiária que inflamava gritos de “Morra” nas mesmas bocas que antes clamavam “Viva”! Ramos verdes transformados em palha seca por estarem desconectados do tronco que lhes poderia garantir a seiva da liberdade e da realização em Deus. Não haviam entendido a proposta do Reino apresentada por Jesus Cristo.

No contexto atual, esta postura equivale a nutrir a expectativa de que, num Brasil onde a corrupção se tornou praticamente endêmica, haveria um “salvador da pátria”, alguém que estivesse acima do bem e do mal para devolver à nação o “cetro da moralidade”. Tola e perigosa ilusão. O Brasil somos todos nós e qualquer mudança implica necessariamente numa transformação da consciência, algo que se constrói com muito trabalho e perseverança, com respeito aos princípios da democracia e com insistente e contínuo diálogo. Neste domingo de Ramos, rezemos para que o povo brasileiro aja com sabedoria e discernimento neste tempo desafiante pelo qual temos passado. Vamos, juntos, erguer os ramos da esperança.

Frei Gustavo Medella

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