As grandes escolas de psicoterapia quase não estudaram a força curadora do perdão. Até há bem pouco, os psicólogos não lhe concediam um papel no crescimento de uma personalidade sadia. Pensava-se erroneamente – e ainda se continua pensando – que o perdão é uma atitude puramente religiosa.
Por outro lado, a mensagem do cristianismo reduziu-se com frequência a exortar as pessoas a perdoar com generosidade, fundamentando esse comportamento no perdão que Deus nos concede; mas não ensinam quase nada sobre os caminhos que a pessoa deve percorrer para chegar a perdoar de coração. Portanto, não é estranho que haja pessoas que ignoram quase tudo sobre o processo do perdão.
Mas o perdão é necessário para conviver de maneira sadia: na família, onde os atritos da vida diária podem gerar frequentes tensões e conflitos; na amizade e no amor, onde se deve saber agir diante de possíveis humilhações, enganos e infidelidades; em múltiplas situações da vida, nas quais temos que reagir diante de agressões, injustiças e abusos. Quem não sabe perdoar pode ficar ferido para sempre. Existe algo que é necessário esclarecer desde o começo. Muitos se acham incapazes de perdoar porque confundem a ira com a vingança. A ira é uma reação saudável de irritação diante da ofensa, da agressão ou da injustiça sofrida: o indivíduo se rebela de maneira quase instintiva para defender sua vida e sua dignidade. Pelo contrário, o ódio, o ressentimento e a vingança vão mais longe do que esta primeira reação: a pessoa vingativa busca causar dano, humilhar e até destruir a quem lhe fez mal.
Perdoar não quer necessariamente dizer reprimir a ira. Ao contrário, reprimir estes primeiros sentimentos pode ser prejudicial se a pessoa acumula em seu interior uma ira que mais tarde se desviará para outras pessoas inocentes ou para ela mesma. É mais sadio reconhecer e aceitar a ira, compartilhando talvez com alguém a raiva e a indignação.
Depois será mais fácil acalmar-se e tomar a decisão de não continuar alimentando o ressentimento nem as fantasias de vingança, para não causar-nos um dano ainda maior. A fé num Deus que perdoa é então para o crente um estímulo e uma força inestimáveis. Para quem vive do amor incondicional de Deus é mais fácil perdoar.
José Antonio Pagola
Trecho do livro “O Caminho aberto pro Jesus”, de José Antonio Pagola, Editora Vozes