Os discípulos se alegraram por verem o Senhor

Cristo vem até nós e não esconde suas feridas, antes as mostra – querendo encorajar-nos assim a que nos dispamos das nossas armaduras, máscaras e maquiagens, e contemplemos as feridas e cicatrizes que escondemos dos outros e de nós mesmos debaixo das camadas de proteção e olhemos também para as feridas que causamos em outros.
Tomás Halík – Toque as feridas – Vozes, p.85

Estamos vivendo as belas alegrias do tempo pascal. Domingo após domingo são facetas novas do Ressuscitado desenhadas diante de nossos olhos. Ele ressuscitou. Voltou para o Pai, mas está no meio de nós, no lusco-fusco ou na claridade da fé. Não cessamos de repetir aleluias e jubilações. Caminhamos por este tempo na companhia do Ressuscitado, sempre no universo da fé. A morte não pronuncia a última palavra. Colossenses sempre nos lembra: “Vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). Escondida no Cristo vive. Somos discípulos do Ressuscitado.

As portas da sala em que se encontravam os apóstolos estavam trancadas. Depois da morte do Mestre o pequeno grupo tinha medo, muito medo. Os apóstolos não queriam ser ocasião de caçoada e chacotas de alguns dos chefes religiosos. As portas estavam vedadas, quem sabe, com trancas de ferro. Talvez mais trancados do que as portas estavam os corações daquele pequeno grupo sobre os quais repousava a responsabilidade de anunciar a vitória do Mestre. Mas quanto temor…

“Não tenhas medo. Eu sou o primeiro e o último. Estive morto, mas agora vivo. Eu tenho a chave da morte e da região dos mortos” (Ap 2,17-18).

Jesus chega. Coloca-se no meio deles, como nos tempos passados. Agora atravessa as portas fechadas. Chega desejando a paz. Quer que o coração dos seus busque asilo na certeza de sua presença. Um outro modo de se fazer presente. Mas é ele.

Aquelas mãos, as mãos de Jesus. Ali estão as chagas. Chagas agora brilhosas, luminosas, brilhantes. Antes foram chagas sanguinolentas e sangrentas. Não podem ser separadas umas das outras. Mistério da vida. Morte e vida. Chagas sangrentas e chagas brilhantes que o mais puro dos ouros… mas chagas.

Aquelas mãos de Jesus conservam as marcas dos pregos. Antes elas haviam tocado a madeira na oficina do carpinteiro José, tinham feito lama com a saliva para untar os olhos do cego, mãos que haviam tocado as crianças. Agora elas tinham preciosos rubis. O escarlate do sangue brilhava e os apóstolos experimentam alegria. Assim, Jesus infunde paz no coração dos temerosos e medrosos discípulos.

“Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. Ele viera da parte de seu Pai. Voltava para o Pai e enviava os seus para continuarem sua missão. Tinham que abrir portas ou entrar por portas fechadas pelo medo e pela autossuficiência e dizer que acreditavam na vida, na plenitude da vida.

Eles seriam embaixadores do perdão. Nas primeiras páginas da Escritura, Deus soprara sobre o primeiro homem feito de barro e ele se tornou alma vivente. Os apóstolos, constituídos mensageiros do perdão, segundo o texto evangélico hoje proclamado, se tornam embaixadores do perdão, são habitados pelo sopro do Espírito. A missão da Igreja é anunciar o mundo novo da paz, da vida, do perdão dos dilaceramentos, das indiferenças, das crueldades desde que os corações se tornem contritos e arrependidos. O perdão é o grande presente pascal.

Tomé estava ausente. Chegara mais tarde. Queria provas da ressurreição. Queria tocar as chagas. Queria ver. Felizes os que não viram, mas creram. Felizes somos nós que tivemos a graça de organizar a nossa vida à luz do Ressuscitado, que nos sentamos à mesa com ele para nos alimentar de seu corpo, que fazemos dele o sentido de nossa vida, ele que mora no amor de um homem e de uma mulher, que deita óleo nas feridas de nossa trajetória e instila esperança em nossas vidas.

 

Frei Almir Guimarães

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