O povo de Deus é a vinha do Senhor

A parábola dos vinhateiros homicidas, contada por três evangelistas (Mateus, Marcos e Lucas), tem, como dissemos, estreita ligação com a que lemos no domingo passado (a parábola dos dois filhos desobedientes), que chamamos de ‘parábola da descrença’. Por não acreditarem na evidência da divindade de Jesus, fariseus e escribas frustraram a justificação (santificação) que Jesus trouxe; não entraram no ‘Reino dos Céus’. Na parábola de hoje, Jesus torna-se ainda mais forte e duro: não só não querem crer, mas assassinam os profetas e o próprio Filho de Deus.

A parábola é tão clara que “os sumos sacerdotes e os fariseus entendem que fala deles” (v. 45) e se enfurecem. Jesus toma uma figura bastante familiar: a da vinha. Familiar não só porque havia muita vinha na Palestina e era comum seu arrendamento, mas também porque, desde os profetas antigos, o povo de Israel era comparado à vinha. A primeira leitura de hoje o lembra: “A vinha do Senhor é a casa de Israel” (Is 5,1-7), por quem Deus tudo faz (v. 4). Dela Deus espera frutos de direito e de justiça (v. 7), mas só colhe violência e aflição. Também o Salmo Responsorial (Sl 80,9-20) compara o povo de Israel a uma videira transplantada do Egito para a Terra prometida.

Jesus retoma a figura usada pelos profetas: a vinha é o ‘Reino dos Céus’, por causa de quem ele vem ao mundo. No Reino, há lugar para todos trabalharem ou, como dirá em outra parábola, também contada em Jerusalém (Mt 25,14-30), há tempo para todos multiplicarem os talentos recebidos de Deus. Talentos que não pertencem à criatura, mas a Deus e a ele devem ser devolvidos multiplicados. Na parábola de hoje, Jesus lamenta que, em vez de os frutos multiplicados serem de justiça (santidade), são de homicídio. Matam os enviados (os profetas) e matam o filho (o próprio Jesus).

Frei Clarêncio Neotti

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