O Deus dos que sofrem

folhas_041116Se algo se mostra claro nas bem-aventuranças é que Deus é dos pobres, dos oprimidos, dos que choram e sofrem. Deus não é insensível ao sofrimento. Não é apático. Deus “sofre onde sofre o amor” (Jürgen Moltmann). Por isso, o futuro projetado e querido por Deus pertence aos que sofrem, porque dificilmente há um lugar para eles na sociedade e no coração dos irmãos.

Não são raros os pensadores que creem observar um aumento crescente da apatia na sociedade moderna. Parece que está crescendo a nossa incapacidade de perceber o sofrimento alheio. É a atitude do cego que já não percebe a dor. É o embotamento de quem permanece insensível diante do sofrimento.

De mil maneiras vamos evitando a relação e o contato com os que sofrem. Levantamos muros que nos separam da experiência e da realidade do sofrimento alheio. Procuramos manter-nos o mais longe possível da dor. Só nos preocupamos com o que é nosso e vivemos “assepticamente” em nosso mundo privado, depois de colocar o correspondente “Do not disturb“.

Por outro lado, a organização da vida moderna parece ajudar a encobrir a miséria e solidão das pessoas, ocultando o sofrimento. Raramente experimentamos de forma sensível e imediata o sofrimento e a angústia dos outros. É difícil encontrar-se de perto com o rosto perdido de um ser humano marginalizado. Não sentimos a solidão e o desespero de quem vive junto de nós.

Reduzimos os problemas humanos a números e dados. Contemplamos o sofrimento alheio de forma indireta, através da tela de TV. Corremos para as nossas ocupações, sem tempo para deter-nos diante de quem sofre.

Mas, no meio dessa apatia social, torna-se mais significativa a fé cristã em um “Deus amigo dos que sofrem”, um Deus crucificado, que quis sofrer junto com os abandonados deste mundo: o Deus das bem-aventuranças.

“Podemos mudar as condições sociais sob as quais sofrem as pessoas… Podemos fazer retroceder e inclusive suprimir o sofrimento que ainda se cria para proveito de uns poucos. Mas em todos esses caminhos tropeçamos com fronteiras que não se deixam ultrapassar. Não é só a morte…, mas também o embrutecimento e a falta de sensibilidade. O único meio de ultrapassar essas fronteiras consiste em compartilhar a dor com os que sofrem, não deixá-los sozinhos e tornar mais eficaz seu grito” (Dorothee Sölle).

 

José Antonio Pagola

Fonte: site Franciscanos

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