O desafio de integrar os dois “Adões”

 

Dentro de nós moram dois “Adões”. O primeiro e o segundo Adão, a quem São Paulo chama, respectivamente, de “ser vivo” e espírito vivificante (Cf. Rm 15,45).

O primeiro está profundamente preocupado com a própria sobrevivência, traz consigo instintos normais de autopreservação e da proteção de si mesmo. Tem reduzida capacidade de reconhecimento do outro, especialmente dos dramas e dores e do outros, e por isso a empatia para ele é algo bastante complicado de se praticar. O primeiro Adão é bom de briga, aprendeu a se virar nas ruas e esquinas da vida e, por isso, com ele, as coisas funcionam na base do “deu levou”, do “milho pouco, meu pão primeiro”, do “amigos, amigos! Negócios à parte”, do “se for para chorar, que chore o outro”.

O segundo Adão, ao contrário, busca cultivar um coração alargado. Percebe desde sempre a sagrada vocação humana à comunhão, com facilidade compreende a dor do outro e, ainda mais, é capaz de trazê-la para si e assumir como sua. É o espírito do encontro, do serviço, da solidariedade, da ousadia, da doação. É capaz de atitudes surpreendentes e desconcertantes como, por exemplo, amar os inimigos, fazer o bem aos que o odeiam, bendizer os que o amaldiçoam, rezar por aqueles que o caluniam e, quando levar uma bofetada, oferecer a outra face também para apanhar (Cf. Lc 6,27-30).

Em sua sabedoria infinita, o sonho de Deus é que, nós, no íntimo de nosso ser, saibamos dialogar com estes dois “Adões”, com nossos instintos e necessidades integrados à nossa capacidade de amar e de dar um novo significado às dores e frustrações que a vida nos traz. Saber promover esta síntese é lançar-se no seguimento de Cristo, o segundo Adão, promovendo o feliz convívio entre humano e divino que ocorre dentro de cada um de nós.

 

Frei Gustavo Medella

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