“Não ficará pedra sobre pedra”: O desafio de ser Igreja na “era dos escombros”

“Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e exortamos a estas pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade o seu próprio pão” (2Ts 3,12). No Brasil de hoje, atender ao apelo de São Paulo na Segunda Carta aos Tessalonicenses soa como privilégio. Já são quase 30 milhões de brasileiros desempregados ou subempregados sem nenhuma garantia ou segurança em relação ao trabalho. A situação de desalento e desamparo de quem não tem trabalho é mencionada pelo Papa Francisco, em sua Mensagem para o 3º Dia Mundial dos Pobres, celebrado neste domingo, quando o Santo Padre escreve: “Qualquer possibilidade que eventualmente lhes seja oferecida, torna-se um vislumbre de luz; e mesmo nos lugares onde deveria haver pelo menos justiça, até lá muitas vezes se abate sobre eles violentamente a prepotência. Constrangidos durante horas infinitas sob um sol abrasador para recolher a fruta da época, são recompensados com um ordenado irrisório; não têm segurança no trabalho, nem condições humanas que lhes permitam sentir-se iguais aos outros. Para eles, não existe fundo de desemprego, liquidação nem sequer a possibilidade de adoecer”.

Neste contexto, no Domingo em que se celebra a solidariedade e a partilha com aqueles que nada têm, às vésperas da Solenidade de Cristo Rei (24 de novembro), que encerra o ciclo do Ano Litúrgico, a Igreja tem o compromisso de se reafirmar como porta-voz da esperança desta multidão desassistida, garantido a eles a certeza de que devem “permanecer firmes a fim de ganhar a vida” (Cf. Lc 25,19).

No entanto, levar esta garantia é tarefa séria e exigente que demanda mais do que palavras bem elaboradas e discursos corretos e adequadamente fundamentados. Quando se depara com a admiração de seus conterrâneos diante de imponência e da beleza do Templo, Jesus os adverte: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 25,6). Não foi compreendido em sua provocação e, no decorrer do diálogo, chegaram a dele duvidar e debochar.

Nos dias do hoje, talvez tenhamos já chegado à “era dos escombros”. Pelo menos é o que se pode imaginar diante de tantos sinais de morte que se apresentam com insistência diante de nossos olhos. Levar esperança neste cenário exige desapego e coragem da parte da Igreja, que é a família dos filhos e filhas de Deus. É urgente o abandono de qualquer tentação ao triunfalismo ou ao apego a um status de poder e destaque que a alienam e a afastam da fidelidade ao Evangelho. É hora de sair pelas ruas, entre os escombros, sem medo, erguendo os caídos e consolando os aflitos. O momento é de deixar de lado todo e qualquer preciosismo, assim como os apegos mundanos e, a partir da pouca argamassa de esperança que ainda resta, reconstruir tantas casas que jazem feridas, desrespeitadas e ameaçadas: desde nossa Casa Comum à casa da humanidade que sente na pele as dores de um mundo que, parece, está desaprendendo a amar.

Frei Gustavo Medella
Fonte: site Franciscanos

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