Na leveza da dança

Por morar em lugar tão especial, passei a andar pela cidade em momentos diferentes – de madrugada, à tarde, ao meio-dia, à noite – para sentir todo o seu fascinante mistério. Um dia, levantei-me de madrugada e encontrei uma jovem paquistanesa sozinha, dançando no meio da praça. Era seguidora de um segmento popular da religiosidade muçulmana com forte influência dos dervixes. Ela realizava aquilo que é tradição do povo do interior de São Paulo, de onde venho: a dança de São Gonçalo. Existe uma música do cantor Pena Branca, fiel escudeiro e companheiro do saudoso Xavantinho, que diz: “Os santos querem que eu reze, São Gonçalo quer que eu dance!”

Ela dançava a dança dos dervixes, girando, com as mãos abertas em concha para colher a energia divina e trazê-la à Terra. Nunca me esqueci do nome dela: Merril Parakaratarambill. Perguntei-lhe: “O que você está fazendo?” Surpreendentemente, ela respondeu: “Orando, rezando”. Tornei a perguntar: “Para quem?” Porque ela usava vestes de cor laranja e estava muito bonita, muito serena. E ela disse: “Eu estou rezando para Francisco”. “Por quê?”, perguntei. E ela: “Porque aprendi com os dervixes, aprendi com a minha religião”.

Nós nos apresentamos e seguimos conversando. Ela disse que a religião era como a dança. Que a sua filosofia era esta: para dançarmos, temos de dar um passo. Para darmos o passo, temos de amar profundamente o chão que pisamos, conhecê-lo muito bem e, ao mesmo tempo, não ficar preso a ele ou não haverá nem passo nem dança. Disse, finalmente, que rezava para Francisco porque ele a ensinava a viver a vida um pouco de pernas para o ar, na leveza da dança…

Então, com esses encontros, fui aprendendo com as diversas culturas o que é esse caminho da terapia das religiões.

Encerro, contando mais um fato. Realizei alguns retiros no Monte Alverne, na região da Toscana, onde Francisco vivenciou os estigmas. Lá, encontrei um monge budista. Quando perguntei o seu nome, ele respondeu: “Eu não tenho nome. Chamamos este lugar de encontro. Quero que você me chame Francisco”.

Por Frei Vitório Mazzuco Filho

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