Mudança radical que transparece em Cristo

Já chegamos à segunda etapa de nossa subida à festa pascal. A 1a leitura nos apresenta a fé com a qual Abraão recebe a promessa de Deus e assim é considerado justo por Deus. Mas o tema que retém nossa atenção está no evangelho de hoje: a visão da fé que descobre o brilho divino no rosto de Jesus.

No evangelho, Lucas nos conta como Jesus foi orar no monte, levando consigo Pedro, Tiago e João, e de repente ficou transfigurado diante dos seus olhos. Apareceu-lhes envolto de glória, acompanhado por Moisés (a Lei) e Elias (os Profetas). Falavam com ele sobre seu “êxodo” em Jerusalém, onde iria enfrentar a condenação e a morte. No momento em que despontava o conflito mortal, Deus mostrou aos discípulos a face invisível de Jesus, seu aspecto glorioso.

Na 2a leitura, Paulo anuncia que Cristo nos há de transfigurar conforme a sua existência gloriosa. Todos nós somos chamados a sermos filhos de Deus. Nosso destino verdadeiro é a glória que Deus nos quer dar. Ora, para chegar lá, devemos – como Jesus – iniciar nosso “êxodo”, nossa caminhada da fé e do amor fraterno, comprometido com a prática da transformação. Isso nos pode levar a galgar o Calvário, como aconteceu a Jesus. O caminho é árduo, e as nossas forças parecem insuficientes. Às vezes parece que não existe perspectiva de mudança. Uma sociedade mais justa e mais fraterna parece sempre mais inalcançável. Mas assim como os discípulos de Jesus, pela sua transfiguração no monte, puderam entrever a glória no fim da caminhada, assim sabemos nós que a caminhada da cruz é a caminhada da glória.

Antes de ser desfigurado no Gólgota, o verdadeiro rosto de Cristo foi transfigurado. Revelou, no monte Tabor, seu brilho divino. Para a fé, os rostos dos nossos irmãos latino-americanos, explorados e pisoteados, brilham como rostos de filhos de Deus. Apesar da desfiguração produzida pela miséria, desigualdade, exclusão, o brilho divino está aí.

Se nós precisamos realizar uma mudança política, econômica e cultural, a mudança radical é a que Deus opera quando torna filho seu aquele que nem figura humana tem. A consciência disto é que nos vai tornar mais irmãos e, daí, mais empenhados em criar uma sociedade digna da glória de Deus que habita em nossos irmãos excluídos. Na Campanha da Fraternidade descobriremos isso. Contemplando a glória de Cristo no rosto do irmão procuraremos caminhos para pôr fim à deformação que nossa sociedade imprimiu a esse rosto, não apenas pela opressão, como também por uma cultura da ilusão e da irresponsabilidade. Por isso, enfrentamos esta caminhada de modo bem concreto, assumindo o sofrimento dos nossos irmãos pisados e oprimidos, participando das lutas materiais, políticas, culturais, e comprovando assim a seriedade de nosso amor fraterno.

 

Pe. Johan Konings
Fonte: site Franciscanos

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