O Brasil registrava um total de 105.463 óbitos em números oficiais no dia 13 de agosto de 2020. Uma centena de milhares de corpos sepultados ou cremados. Corpos que carregaram histórias, lutas, dores, alegrias, tristezas, medos e amores. Viabilizaram vidas, possibilitaram relações e deixaram vazios: o quarto desocupado, o lugar à mesa, o chinelo à beira da cama e a muda de roupa escolhida para vestir assim que voltasse do hospital, curado. Corpos que carregaram esperanças.
Celebrar a Assunção de Nossa Senhora neste contexto de pandemia, quando um ser invisível ataca de morte a condição de visibilidade do ser humano, é recordar a sacralidade daquele a quem São Paulo denominou “templo do Espírito Santo”. Maria assumida no céu integralmente, de corpo e alma, é testemunho místico e concreto de que toda vida vale, não muito. Vale tudo! Vale todo e qualquer esforço empreendido para assegurar-lhe a dignidade que passa pela necessária mediação do corpo.
É necessário cuidar do corpo. E tal cuidado, entenda-se, não se resume numa preocupação estética de plásticas e academias. Nem em pensar apenas num conforto corporal cultivado à custa de macias plumas, veículos milionários, bebidas caras e viagens em primeira classe. O cuidado do corpo passa pelo respeito, onde todos se educam desde sempre para saber que ninguém é propriedade de ninguém e que todo mundo tem direito a ser quem é, respeitando e sendo respeitado. É lutar por justiça, para que corpo nenhum seja corroído a “conta-gotas” a partir de dentro pelo flagelo da fome, que tortura e mata aos poucos. É trabalhar firme para que os corpos não se distingam pela cor, a ponto de a pigmentação da pele ser critério para definir quem tem mais chance de morrer mais jovem. Cuidar do corpo é manifestar reverência à vida, em todas as suas etapas, da concepção ao último suspiro.
Maria, Assunta ao Céu, inspire-nos sempre ao cuidado integral uns dos outros. A pandemia não passou. Os cuidados são imprescindíveis. Atenção e amor, por favor!
Frei Gustavo Medella
