O quinto capítulo da encíclica “Louvado Seja” tem como título “Algumas linhas de orientação e ação”. Na encíclica anterior, “A alegria do Evangelho”, o Papa Francisco já insistia que “a realidade é superior à ideia”. Segundo ele, não pôr em prática, “não levar à realidade a Palavra é construir sobre a areia”. Na atual encíclica também o Papa retoma esta afirmação e não podia faltar um capítulo como este, de orientação e ação.
Comentando o fracasso do diálogo sobre meio ambiente na política internacional, Francisco constata que a mesma inteligência que produziu um enorme desenvolvimento tecnológico “não consegue encontrar formas eficazes de gestão internacional para resolver as graves dificuldades ambientais e sociais”. Referindo-se à Rio 92, onde já se proclamava que “os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável” e reconhecendo o caráter profético daquela Conferência, o Papa lembra que a sua implementação deixou a desejar. Nas palavras de Francisco, “os princípios enunciados continuam a requerer caminhos eficazes e ágeis de realização prática”.
É preciso valorizar o diálogo para novas políticas nacionais e locais. Francisco enumera iniciativas positivas nessa esfera, desde cooperativas para exploração de energias renováveis, acordos entre populações vizinhas sobre políticas ambientais, cooperação comunitária para defender interesses dos pequenos produtores e salvaguardarem ecossistemas locais. Também é necessário diálogo e transparência nos processos decisórios. Um estudo de impacto ambiental não deveria ser posterior à elaboração de um projeto produtivo ou de qualquer política ou programa.
Acima de tudo é necessário superar o paradigma tecnocrático. Segundo o Papa, “não é suficiente conciliar, a meio-termo, o cuidado da natureza com o ganho financeiro, ou a preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso”. É preciso redefinir progresso pois “um desenvolvimento tecnológico e econômico, que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar progresso”.
A Igreja não pretende substituir a ciência, mas ela quer convidar para um debate honesto e transparente que impeça que necessidades particulares ou ideologias lesem o bem comum. Como afirma Francisco, se às vezes uma má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o domínio despótico do ser humano sobre a criação, nós, crentes, “podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar”.
Colaboração de Emmanuel Paiva de Andrade
Pastoral da Comunicação