Fé cristã

O cristianismo é essencialmente o Evangelho, a santidade pessoal e o estar centrado numa pessoa: Jesus Cristo. A Igreja, por sua vez, é essencialmente comunidade de fiéis. Nisso se expressa sua identidade. Os fiéis são marcados pela experiência do encontro com a pessoa de Jesus e seu Evangelho, e, por isso, buscam no cotidiano, inseridos nas diversas atividades, promover a justiça e o amor, sobretudo para com os necessitados (GS, 21).

A fé que sustenta a vida em comunidade é antes de tudo dom; expressão do encontro pessoal íntimo com Jesus, a experiência da sua proximidade, da sua amizade e do seu amor: só assim se aprende a amá-lo e conhecê-lo cada vez mais. É por isso que no início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá à vida um novo horizonte e, dessa forma, o rumo decisivo (Bento XVI).

A fé cristã não é simplesmente a fé numa realidade infinita, distante, onipresente, onipotente e onisciente, mas no Deus de Jesus Cristo, o Crucificado-Ressuscitado, no Deus revelado em suas palavras e ações e que assumiu os panos da fragilidade humana. A fé professada é participação na fé da Igreja. A Igreja conserva a memória da obra da salvação realizada em Jesus Cristo.

Os membros da comunidade de fé experimentam uma tensão para o mistério que a todos envolve. Existe, pois, uma comunhão recíproca entre os membros da comunidade. A unidade é marcada pela comunhão entre os membros, na limitada e pessoal experiência de fé. Compreende-se, assim, porque não se pode aprisionar a fé numa formulação de determinada época ou numa determinada corrente teológica. A experiência do encontro com a pessoa de Jesus Cristo faz irromper, sempre e de novo, inéditos horizontes, ulteriores complementações e aprofundamentos da compreensão da própria experiência de fé.

Sentimos as consequências do número expressivo de batizados não evangelizados, da separação entre fé cristã e vida pessoal, do destaque a formulações doutrinais e exigências marcadas por certo fundamentalismo no cumprimento de normas morais, do mundanismo espiritual, do cuidado exibicionista da liturgia, distantes da dura realidade vivida pelo povo. A transmissão da fé às novas gerações numa época de rápidas transformações requer novo ardor, novos métodos e novas expressões.

Papa Francisco insiste que a Igreja proclame o coração da mensagem de Jesus Cristo (EG 34). O Evangelho expressa um forte convite a responder a Deus que nos ama e salva, reconhecendo-o nos outros e saindo de nós mesmo para procurar o bem de todos (EG 39).

Por isso, a comunidade de fé, formada por discípulos-missionários, “nunca é algo fechado sobre si mesmo. Nela, a vida íntima, a vida de oração, o ouvir a Palavra e o ensino dos apóstolos, a caridade fraterna vivida e a fração do pão, não adquire todo o seu sentido senão quando ela se torna testemunho, a provocar a admiração e a conversão e se desenvolve na pregação e no anúncio da Boa Nova. Assim, é a Igreja toda que recebe a missão de evangelizar, e a atividade de cada um é importante para o todo” (Paulo VI).

Recordar alguns aspectos fundamentais da fé cristã certamente favorece uma melhor compreensão da mesma, resgatando elementos que a caracterizam: acolhida do diferente, respeito pelas diferenças, promoção e defesa da vida, itinerância, exercício generoso da misericórdia e abertura para uma autêntica universalidade. Tudo isso sustentado por uma profunda unidade espiritual e doutrinal em Jesus Cristo.

 

Dom Jaime Spengler
Fonte: site CNBB

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