Em direção a que Deus estamos caminhando?

O tempo de pandemia que se prolonga é mar revolto que balança a frágil barca da vida. O desconforto, a náusea e o medo de perecer tornam-se nossos companheiros de viagem. A tentação do “salve-se quem puder” chega a bater em nossa porta e nos leva a equívocos perigosos. Chegamos a esquecer que, neste contexto extremo, o cuidado apenas de si mesmo ou de alguns privilegiados não é capaz de responder à gravidade do momento. Tem de ser o cuidado de todos, inclusive do planeta.

Num momento de incertezas, perdas e dores, é quase natural que o ser humano procure olhar com mais atenção para a dimensão do transcendente, de algo que vá para além dele mesmo, na esperança de ali encontrar a solução que tanto procura. É o mesmo ímpeto que teve Simão Pedro ao caminhar sobre as águas em direção a Jesus quando ele e seus companheiros eram assolados pelo medo da tempestade.

Nesta busca marcada pela fé, é importante discernir em torno da questão: “Em direção a que Deus estou caminhando”? Se pensamos numa figura distante e seletiva que, “salvando a mim, o resto, o que importa?”; se procuramos um Deus mágico e desencarnado, descolado da realidade e que pode me levar à arrogância de dispensar os cuidados básicos e necessários apontados por quem estuda e busca conhecer o assunto, como o isolamento social, o uso de máscara, a higienização das mãos, em ambos os casos, estou caminhando em direção a um deus falso e idealizado, “criado à minha pobre imagem e semelhança”. Neste caso, fatalmente vou afundar e perecer.

Por outro lado, se me deixo tocar pela profunda experiência de Elias, que aprende a encontrar o Senhor na sutileza, na simplicidade e na discrição, ali vou perceber a mão amorosa de Deus estendida na minha direção. Ao mesmo tempo vou perceber que, mesmo pequeno e cheio de limites, também posso e devo fazer a minha parte e, vencendo o medo e o desespero, serei capaz de ser presença divina, ainda que sutil, simples e discreta, na vida de tantos irmãos e irmãs que o sofrem o desespero desta terrível tempestade.

Frei Gustavo Medella

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