Diante da paz, o que significa o mistério da cruz?

 

Seio de consolação, úberes de glória. A imagem da amamentação aparece na auspiciosa profecia de Isaías em torno da Jerusalém (Is 66,10-14c) como prefiguração de uma terra de justiça, paz e amor, como prefiguração do Reino de Deus anunciado e proposto por Jesus. Amamentar é necessário para a mãe, condição para que sua saúde seja preservada. Para o filho, questão de sobrevivência. Deus, qual mãe zelosa, oferece abundantemente o “leite” de sua graça, fonte de vida e salvação para seus filhos e filhas.

A Paz que Jesus orienta seus discípulos a distribuir nas casas por onde passarem equivale a este alimento abundante que Deus disponibiliza para os seus. Quando os discípulos a oferecem como dom, ela em nada se diminui, ao contrário, multiplica-se na vida de quem a oferece e daquele que a recebe. É nesta lógica da generosidade que a paz nasce e se estabelece.

Diante da bonita perspectiva da construção de um mundo de paz, como entender neste contexto o mistério da cruz? Por que São Paulo, na Carta aos Gálatas (Gl 6,14-18), descreve-se como alguém “crucificado para o mundo”. Como o anúncio de algo tão puro e sublime como a paz pode produzir feridas dolorosas como aquelas da cruz? O mesmo profeta Isaías é capaz de fornecer uma luz que pode iluminar esta questão: “A Paz e fruto da justiça” (Is 32,17). Construir a paz significa, então, trabalhar pela justiça. E foi a luta pelo florescer desta segunda que Cristo, os apóstolos e mártires, cristãos de ontem e de hoje, derramaram seu sangue que penetraram o chão da história como sementes fecundas de paz. A mesma generosidade de Deus ao distribuir largamente o dom da paz encontra aquele que se torna capaz de entregar a própria vida por este ideal. Radicalizar-se neste caminho é prova de amor incondicional a Deus e aos irmãos.

 

Frei Gustavo Medella

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