Deus se coloca no fim da fila

Em Portugal, chama-se “bicha”. No Brasil, fila. Reza a lenda que brasileiro é fã de fila. Há controvérsias. De qualquer modo, ela existe de muitos modos. Fila do banco, do pão, do supermercado, de entrada no teatro ou no estádio, do gás, do concurso, a famosa fila do SUS, a da espera ansiosa por um transplante, a do pronto-socorro. Pode ser ordenada a partir de muitos critérios: tamanho, chegada, idade, necessidade, urgência, a partir da distribuição de senhas etc. Às vezes, muitos podem ter a tentação de furá-la, entrando sorrateiramente à frente de um conhecido, acompanhando espertamente o fluxo, pedindo a ajuda ou a intercessão de alguém influente e poderoso. Se há algo comum entre as filas, de todo tipo e espécie, são as desvantagens que se encontra nos últimos lugares. Afinal, estes muitas vezes carecem de garantias. Não sabem se vai sobrar comida para eles, se haverá tempo hábil para seu atendimento, se serão de fato atendidos em suas demandas. O lugar dos últimos é um lugar de incertezas.

Quando vem participar integralmente da vida da humanidade em Jesus Cristo, Deus escolhe entrar no último lugar da fila, pois vem pobre, humilde, pequeno, discreto e sem privilégio. Dali, consegue ter uma visão do todo – e esta é uma das possíveis vantagens de se estar no fim da fila. Tem a possibilidade de perceber quem está mais necessitado, quem caminha com honestidade esperando a sua vez e consegue ver as artimanhas dos espertos, que nem sempre se utilizam dos meios mais lícitos para se manterem nos primeiros lugares e, assim, não deixam a fila andar. Do último lugar, o Senhor também se entristece com o egoísmo de quem passa duas, três ou mais vezes na fila sem olhar para seus irmãos que enfrentam a dura dor da carência.

É assumindo o lugar dos últimos que o Senhor cumpre os prodígios narrados pelo salmista: “Dos órfãos ele é pai, e das viúvas protetor: é assim o nosso Deus em sua santa habitação. É o Senhor quem dá abrigo, dá um lar aos deserdados, quem liberta os prisioneiros e os sacia com fartura” (Sl 67). Com seu modo de ser, Deus nos ensina a não brigarmos nem a gastarmos energia lutando pelos primeiros lugares, mas a nos colocarmos como últimos e servidores daqueles que não têm a quem recorrer a não ser ao Senhor.

Frei Gustavo Medella

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