Conquista que nasce de uma travessia sofrida

Frase para refletir:
Por trás de cada coisa bonita, há algum tipo de dor” (Robert Allen Zimmerman, ou “Bob Dylan”, compositor, cantor, pintor, ator e escritor americano, *1941).

 

O belo ou bonito está também no coração bondoso de quem olha. “Bonito” se refere àquela realidade que se mostra, ou melhor, que se externa como o melhor, o mais perfeito e essencial de uma coisa. Para vir à tona, para se mostrar ou se externar, aquilo que surge, só surge, porque passa por um processo lento, gradual e árduo de transformação. Esse processo lento, gradual e árduo de transformação em geral é doloroso, não vem de “mão beijada” e nem espontaneamente, entendendo o espontâneo aqui como o que se mostra sem esforço, sem luta e sem determinação.

Nesse sentido, por trás de cada coisa bonita é que há algum tipo de dor. Por trás, por exemplo, de todo balé bonito e bem dançado está muitos pés “arrebentados” e sofridos das bailarinas. Por trás das belas palavras e reflexões dos sábios existe o sofrimento de pensar o impensado de tudo o que é pensado. Por trás do profissionalismo de muitos homens e mulheres na área da saúde, da educação, da arte, da cultura, do mundo empresarial, estão as madrugadas, os dias, meses e anos curtidos no contato com livros, leituras, exames, entrevistas e verificações de todos os tipos. Também por trás da beleza de muitos corpos esculturais estão as dores e os suores de anos de academia e malhação.

Por trás da serenidade e beleza translúcida do rosto de um enfermo, há a conquista e o aprendizado do sentido da dor e do sofrimento. Por trás da beleza e da alegria pura e inocente de um “bobo-alegre” está, muitas vezes, o sofrimento ocasionado pela perda da consciência ou do senso de realidade. Em síntese, o que é bonito mesmo sempre vem acompanhado de uma dor que o antecipa. Só que essa dor nada tem do prazer do masoquista que se delicia dos sofrimentos infligidos a si próprio.

Tem a ver com a conquista que nasce de uma travessia sofrida, feita de altos e baixos no caminho de superação dos obstáculos e desafios que se apresentam no interior de sua alma ou no núcleo de sua vida. A dor, nesse sentido, pertence ao processo de aperfeiçoamento de tudo o que quer chegar a ser verdadeiramente belo e bonito na pessoa. Pode ser que pensando assim, toda pessoa que se mostra realmente bonita por fora é porque internamente foi bastante lapidada nos seus valores, nas suas buscas e nos seus sonhos. Desta forma, brilha por fora o que por dentro foi testado e amadurecido no tempo e no terreno do sofrimento. O bonito que nasce daí nem sempre é meramente estético, mas algo vigoroso, inquebrantável, polido, forte, precioso, e substancial.

 

José Irineu Nenevê

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